quinta-feira, 7 de novembro de 2013

Henry James e a crítica

Henry James
Não apenas romancista e contista, Henry James também foi um teórico e crítico literário importante. Seus trabalhos mais notáveis nesse sentido estão contidos nos livros A arte da ficção, qual o autor escreveu em apenas 3 dias, em Londres, após encontrar um panfleto onde um professor comentava sobre o futuro do romance; e uma série de prólogos, que ele escreveria para as suas edições definitivas, e que posteriormente seriam recolhidas em uma antologia que levaria o nome de A arte do romance.
Em A arte da ficção (2011), Henry James atribui grande importância a função do crítico (que em seus dias apenas começava a ser definida) para com a arte. O autor constrói deste modo o paralelo onde
A arte vive de discussão, de experimentação, de curiosidade, de variedade de tentativas, de troca de visões e de comparação de pontos de vista; e presume-se que os tempos em que ninguém tem nada de especial a dizer sobre ela e em que ninguém oferece motivos para o que pratica ou prefere, embora possam ser honrados, não sejam tempos de evolução – talvez sejam tempos, até, de uma certa monotonia. A prática bem-sucedida de qualquer arte é um espetáculo agradável, mas a teoria também é interessante; e, embora haja uma grande quantidade da segunda sem a primeira, suspeito de que nunca tenha havida um sucesso genuíno que não tenha tido um âmago latente de convicção (JAMES, 2011, p. 12).

Nessa obra, ele procura definir quais são os papeis da arte literária, com o que ela deve se engajar, e qual o seu futuro. James foi, deste modo, o primeiro autor a levantar a voz e dizer que o escritor deveria ser livre, e que a arte pode tratar de qualquer tema e da forma que o gênio criador achar mais conveniente. Isso foi importante pois, pela primeira vez, quebrava os dogmas das escolas literárias e incentivava a criação individual. Assim, para o autor, assuntos sérios e populares mereciam atenção do artista, sendo que o critério que determinaria o valor dessa obra seria o talento e a sinceridade com o escritor lhe trataria.
Quanto ao futuro do romance, James era pessimista. Ele viveu a época do grande “bum” editorial, onde o mercado começava a produzir e a consumir uma infinidade de títulos anualmente. Escritores ruins surgiam cada vez mais, ao passo que os bons eram cada vez menos, e o público parecia gostar cada vez mais da literatura puramente de entretenimento. Diante disso, James acreditava que o excesso de obras ruins no mercado sobreporia e afogaria a boa arte, e, deste modo, só sobraria a arte de massa. O que, felizmente, ainda não aconteceu.
Ao mesmo tempo, ele foi crítico de outros autores de seu tempo. Um exemplo foi seu ensaio sobre Emile Zóla, autor cujo talento James parecia contestar, ainda que fossem (ou houvessem sido) amigos.
Já em seus prólogos, James abandona o papel de crítico e assume o de teórico. A importância de sua Arte do romance (2011) iria além de suas próprias expectativas, e até os anos de 1960 (sessenta anos após sua publicação), ainda seriam discutidas pelos teóricos avidamente. O curioso é que esses prólogos obtiveram mais sucesso que as edições de luxo de sua Obra Completa, preparadas por uma editora de Nova York, e nas quais o próprio autor se envolveu, trabalhando novamente em seus romances prontos, mudando detalhes, tirando e acrescentando trechos inteiros, etc., pois James queria que com esses livros de luxo suas obras atingissem o sucesso que sozinhas não tiveram devido a sua complexidade (o que, é preciso dizer infelizmente também não aconteceu com as edições de luxo). Mas o valor de seus prólogos para a teoria literária é inimaginável.

James foi o primeiro autor a teorizar como deveria ser a estrutura narrativa. Foi de seu trabalho que assuntos como o foco narrativo e o fluxo de pensamento surgiram. Para ele, o romance não é a vida, a arte não é a vida, mas trata de um olhar sobre ele. Esse olhar deve ser aberto para várias direções, mas não pode deixar espaço para o arbitrário, tudo precisa ser sistematizado e trabalhado com o rigor da arte, e por fim, deste modo, alcançar a ilusão da vida mais intensa possível, o que significa muitas vezes fazer a ficção soar mais real que a própria realidade.
Para tanto, o autor de um romance, deve escolher entre dois métodos narrativos: o pictórico e o dramático. Este segundo trata de uma narrativa onde os fatos expostos são o elemento mais importante, e abre espaço para que o autor intervenha, mas sempre tendo a ação no centro. Deste modo, o leitor sente-se como em um teatro a contemplar o palco. Já o primeiro método, o adotado por James em suas grandes obras, é aquele marcado pelo distanciamento do narrador de modo a este quase deixar de existir, permitindo que os personagens façam a história se desenrolar por si só, sem a necessidade de uma força externa que lhes conduza. Assim, o leitor teria a impressão de estar dentro da obra, não em um palco. Foi este segundo método que abriu as possibilidades para o fluxo de pensamento, a forma narrativa pela qual James é um  imortal na literatura. Naturalmente, ela também permite que o autor faça ouvir sua voz, mas essa estará em assonância com o a do personagem.

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