Henry James |
Em A
arte da ficção (2011), Henry James atribui grande importância a função do
crítico (que em seus dias apenas começava a ser definida) para com a arte. O
autor constrói deste modo o paralelo onde
A arte vive de discussão, de experimentação,
de curiosidade, de variedade de tentativas, de troca de visões e de comparação
de pontos de vista; e presume-se que os tempos em que ninguém tem nada de
especial a dizer sobre ela e em que ninguém oferece motivos para o que pratica
ou prefere, embora possam ser honrados, não sejam tempos de evolução – talvez
sejam tempos, até, de uma certa monotonia. A prática bem-sucedida de qualquer
arte é um espetáculo agradável, mas a teoria também é interessante; e, embora
haja uma grande quantidade da segunda sem a primeira, suspeito de que nunca
tenha havida um sucesso genuíno que não tenha tido um âmago latente de
convicção (JAMES, 2011, p. 12).
Nessa obra, ele procura definir quais
são os papeis da arte literária, com o que ela deve se engajar, e qual o seu
futuro. James foi, deste modo, o primeiro autor a levantar a voz e dizer que o
escritor deveria ser livre, e que a arte pode tratar de qualquer tema e da
forma que o gênio criador achar mais conveniente. Isso foi importante pois,
pela primeira vez, quebrava os dogmas das escolas literárias e incentivava a
criação individual. Assim, para o autor, assuntos sérios e populares mereciam
atenção do artista, sendo que o critério que determinaria o valor dessa obra
seria o talento e a sinceridade com o escritor lhe trataria.
Quanto ao futuro do romance, James era
pessimista. Ele viveu a época do grande “bum” editorial, onde o mercado
começava a produzir e a consumir uma infinidade de títulos anualmente.
Escritores ruins surgiam cada vez mais, ao passo que os bons eram cada vez
menos, e o público parecia gostar cada vez mais da literatura puramente de
entretenimento. Diante disso, James acreditava que o excesso de obras ruins no
mercado sobreporia e afogaria a boa arte, e, deste modo, só sobraria a arte de
massa. O que, felizmente, ainda não aconteceu.
Ao mesmo tempo, ele foi crítico de
outros autores de seu tempo. Um exemplo foi seu ensaio sobre Emile Zóla, autor
cujo talento James parecia contestar, ainda que fossem (ou houvessem sido)
amigos.
Já em seus prólogos, James abandona o
papel de crítico e assume o de teórico. A importância de sua Arte do romance (2011) iria além de suas
próprias expectativas, e até os anos de 1960 (sessenta anos após sua
publicação), ainda seriam discutidas pelos teóricos avidamente. O curioso é que
esses prólogos obtiveram mais sucesso que as edições de luxo de sua Obra
Completa, preparadas por uma editora de Nova York, e nas quais o próprio autor
se envolveu, trabalhando novamente em seus romances prontos, mudando detalhes,
tirando e acrescentando trechos inteiros, etc., pois James queria que com esses
livros de luxo suas obras atingissem o sucesso que sozinhas não tiveram devido
a sua complexidade (o que, é preciso dizer infelizmente também não aconteceu com
as edições de luxo). Mas o valor de seus prólogos para a teoria literária é
inimaginável.
James foi o primeiro autor a teorizar
como deveria ser a estrutura narrativa. Foi de seu trabalho que assuntos como o
foco narrativo e o fluxo de pensamento surgiram. Para ele, o romance não é a
vida, a arte não é a vida, mas trata de um olhar sobre ele. Esse olhar deve ser
aberto para várias direções, mas não pode deixar espaço para o arbitrário, tudo
precisa ser sistematizado e trabalhado com o rigor da arte, e por fim, deste
modo, alcançar a ilusão da vida mais intensa possível, o que significa muitas
vezes fazer a ficção soar mais real que a própria realidade.
Para tanto, o autor de um romance, deve escolher entre dois métodos narrativos: o pictórico e o dramático. Este segundo trata de uma narrativa onde os fatos expostos são o elemento mais importante, e abre espaço para que o autor intervenha, mas sempre tendo a ação no centro. Deste modo, o leitor sente-se como em um teatro a contemplar o palco. Já o primeiro método, o adotado por James em suas grandes obras, é aquele marcado pelo distanciamento do narrador de modo a este quase deixar de existir, permitindo que os personagens façam a história se desenrolar por si só, sem a necessidade de uma força externa que lhes conduza. Assim, o leitor teria a impressão de estar dentro da obra, não em um palco. Foi este segundo método que abriu as possibilidades para o fluxo de pensamento, a forma narrativa pela qual James é um imortal na literatura. Naturalmente, ela também permite que o autor faça ouvir sua voz, mas essa estará em assonância com o a do personagem.
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