domingo, 17 de novembro de 2013

[ESPECIAL HENRY JAMES] A Fera Jamesiana


Uma das principais obras curtas de Henry James, a obra A fera na selva, de 1903, também é uma das mais belas obras do começo do século XX.  Modesto Carone, em seu posfácio à edição brasileira de 2007, refere-se à novela jamesiana como uma “renovação inesperada da história de amor” (pág. 83), pois James trata a trama de uma ótica totalmente incomum para as histórias românticas.
Pertencente à terceira fase do escritor, a última e mais complexa, o livro segue toda estrutura que marca essa fase, onde o autor abandona a preocupação com a trama para se focar na psicologia das personagens, criando uma narração que se calca mais na ausência que na ação, o que dá aos seus escritos um tom mais monótono. Ainda assim, se falta ação, James não deixa nem por um segundo de envolver seus leitores com um suspense sutil.
Caricatura Henry James
A história narra o reencontro de John Marcher e May Bartram após muitos anos. Desse encontro, o leitor descobre que no passado, John fizera a moça uma confidência inusitada, revelando a ela a terrível maldição que rondava sua família: “um mal que espreita para dar-lhe o bote como um fera na selva.” Ninguém sabe quando ocorrerá, mas John sabe que ao acontecer será trágico, assim como o foi com seu tio. A moça, única pessoa para quem ele contou esse segredo, o guardou até o presente, e disso nasce uma amizade longa que duraria até o fim de suas vidas, e que aos poucos se converteria, sem que John o notasse, em algo mais.
Conforme os anos passam, sua relação se torna mais próxima, entretanto, John está cada vez mais temeroso de sua maldição. Os dois estão mais próximos, e ele percebe que May é a melhor coisa em sua vida. Mas não deixa-se, por medo, levar pelo amor. Até que esta fica doente, e morre.
Somente então a terrível maldição é revelada, e ele descobre que poderia sido evitada: deixar a vida passar ao léu, e não viver por medo. Diante desse consciência John brada em desespero sob o tumulo da ama, ao que o narrador, que se confunde com o fluxo de pensamento da personagem sentencia: “Quando as próprias possibilidades, consequentemente, mostravam-se exauridas, quando o segredo dos deuses se esvaia, ou mesmo evaporava, isso sim, e apenas isso, era o fracasso” (JAMES, 2007; p. 44).

Todorov (2003), define as novelas jamesianas como uma busca por uma carência ou uma ausência. Segundo o teórico, quando essa carência ou ausência é suprida a história acaba. Nesse sentido, A fera na selva narra a triste história de amor partindo do medo de John, que faz com que negue e fuja do amor devido a expectativa do que possivelmente irá ocorrer (o desconhecido, a ausência de um mal que surgirá a qualquer momento), e no momento em que ele toma consciência do que é esse mal, a trama acaba.

Imagem interior do livro, edição Cosac Naify, toda estilizada.

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