terça-feira, 12 de novembro de 2013

Espantalho



De um horizonte 
tão reto
capturo a mesma imagem
[sempre em silêncio]

Seco!

o sol amarelece a foto 
que em minha frente compõem
dias estéreis
(empalhados)
velados pelo sopro calado
de um vento infecundo

Existo!

Conservando nas entranhas
brados encarcerados
condenados para sempre
à mudez

como quem consente ao cenário
agônico
mantenho a face rígida

[um corpo vácuo
fincado num pedaço de terra morta...]

Sustento um corpo ereto
tecendo instintivamente
um campo de defesa

as aves que em sua arte
tentam transmitir aos dias mudos
a alegria de um canto limpo

Espanto!

Em meu espaço
estarei fadado a ouvir somente
gritos
que roncam compulsivamente
no meu estômago empalhado

por hora
vou marcando em cada nascer de sol
um ponto cego
(e a poesia?)

Espanto!

– No fim meu peito será rasgado
e nesta terra seca, para todo sempre,
jazerão meus trapos.

Autor: Mário Lousada

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