Particularmente eu sou muito
atraído por ditaduras. Principalmente a Soviética e o período que compete do
fim da Segunda Guerra até os anos 80. E como um bom fã do David Fincher, também
fico alucinado em uma boa história de serial killer. Logo, Criança 44 (Record, 2013), do britânico Tom Rob Smith, me chamou
muita a atenção, mais do que isso, foi um dos livros que mais me criou
expectativa. E então saiu a notícia do filme, com um trailer que me fez pirar –
eu tinha acabado de ver Mad Max e o Tom Hardy meio que ganhou meu respeito e
tal – aí, ler o livro, antes de ver o filme, se tornou assunto de extrema
importância. Mas, infelizmente, tanta expectativa não valeu a pena.
Em primeiro lugar é importante
lembrar que esse foi o primeiro livro do autor, que é inclusive bem novinho. Em
segundo lugar, e isso me ocorreu depois, é impossível evitar a sensação de que
se está lendo um livro que se passa na URSS, mas a visão do mundo ao redor é
totalmente britânica. Isso fica claro pela visão política implícita no livro e
o certo... extremismo com que ele pinta a mentalidade russa. De resto, existe
uma ingenuidade, própria dos autores iniciantes no gênero, que acabam forçando
a realidade: como a convicção que bastava alguém dizer que se opunha ao governo
para receber ajuda incondicional de todos estranhos pelo caminho. Em todo caso,
o pior não é isso, o pior é que sem querer o autor criou um enredo (ok,
desconfio que foi de propósito) extremamente complexo, que poderia ter
transformado Criança 44 no melhor romance de sua geração, mas ele insistiu em
escolher seguir com o clichê.
Tom Rob Smith |
O começo da história é fantástico.
Uma história onde um homem precisa investigar sua própria mulher e começa a
descobrir a verdade sobre seu casamento e sua pátria, num contexto de paranoia,
perseguição e claustrofobia (uma vez que na URSS a liberdade individual e
privada não existia), poderia ter transformado o livro em uma obra incrível. Eu
realmente achei que esse ia ser o foco. Mas quando esse quadro complexo foi se
deslocando para o caso do serial killer, e o conflito do casal meio que se
resolveu naturalmente, igual a qualquer filme hollywoodiano, a história perdeu
toda força e inovação que tinha, transformando o contexto humano extremamente
complexo em só mais um folhetim genérico cuja ação se passa num local exótico.
E ainda existe uma ligação entre Liev e o assassino que fica óbvia na metade do
livro, destruindo a reviravolta que muitos esperavam e que é muito forçada.
Mas o livro ainda consegue te
prender e você vai querer saber o final, já que tudo está contra Liev e sua
esposa. É uma leitura divertida, que vai consumir dois ou três dias de seu
tempo, que você logo vai esquecer, mas vai te divertir. E eu ainda fiquei mais
decepcionado ainda, porque descobri que o filme não vai ser transmitido pelos
cinemas da minha cidade e da região... Em todo caso, o livro ainda é melhor que
os romances do Dan Brown.
Em contra partida, é preciso dizer que o filme consegue ser melhor que o livro (apesar da tradução ridícula do titulo para Crimes Ocultos). Eles tiram algo que na minha opinião foi muito forçado no romance e conseguem dar uma abordagem mais natural. E o papel da mulher de Liev no filme também ganha destaque, tanto que nas cenas de ação a impressão que passa é que quem está batendo nos inimigos é ela, não Liev. As interpretações dos personagens são boas e a ambientação do filme é excelente. Existe sim alguns problemas de edição e direção, mas no geral é um bom thriller. Apesar disso, o filme também não é grande coisa. Mas vale a pena conhecer livro e filme pelo contexto histórico. E mesmo que eu não tenha ficado animado para ler as continuações (o que eu farei de qualquer forma, afinal eu comprei a trilogia completa), vou dar uma segunda chance para Liev, afinal a premissa continua sendo muito boa, resta esperar que autor também melhore.
Cena do filme |
Em contra partida, é preciso dizer que o filme consegue ser melhor que o livro (apesar da tradução ridícula do titulo para Crimes Ocultos). Eles tiram algo que na minha opinião foi muito forçado no romance e conseguem dar uma abordagem mais natural. E o papel da mulher de Liev no filme também ganha destaque, tanto que nas cenas de ação a impressão que passa é que quem está batendo nos inimigos é ela, não Liev. As interpretações dos personagens são boas e a ambientação do filme é excelente. Existe sim alguns problemas de edição e direção, mas no geral é um bom thriller. Apesar disso, o filme também não é grande coisa. Mas vale a pena conhecer livro e filme pelo contexto histórico. E mesmo que eu não tenha ficado animado para ler as continuações (o que eu farei de qualquer forma, afinal eu comprei a trilogia completa), vou dar uma segunda chance para Liev, afinal a premissa continua sendo muito boa, resta esperar que autor também melhore.