segunda-feira, 25 de novembro de 2013

A solidão Sul-Americana


Um dos maiores escritores sul-americanos, e também agraciado com o premio Nobel de literatura, o colombiano senhor do realismo fantástico, Gabriel Garcia Marquez, já é quase um icone da cultura pop latina-americana. Em seu discurso de posso do premio mais cobiçado do mundo intelectual, falou sobre a solidão da América Latina. Uma solidão calcada na incompreensão de um mundo que a desconhece, e no abandono, tanto político quanto existencial que a cerca. E ele diz, “é nisso que consiste nossa solidão”.
Entretanto, a solidão de sua maior obra, o monumental Cem Anos de Solidão, é muito mais sólida, calcada na magnitude da própria solidão humana, em sua busca por plenitude e completude e todo esforço para se manter firme no vácuo. E é desse pressuposto que parte a obra, calcada na trajetória solitária de uma família ao longo de cem anos de sua história. Essa família, todavia, não é uma mera composição de homens e mulheres com laços de sangue, essa família é a composição de toda uma America do Sul incompreendida e em busca de sua realização.
Gabriel Garcia Marquez
A primeira coisa que um leitor percebe ao ler Cem Anos de Solidão é o quanto ele é vasto. O que um autor demoraria várias páginas para contar, Garcia Marquez o narra em questões de linhas. O que dá ao texto, palavra derivada de textura, uma densidade grossa (ainda que o livro tenha em torno de 500 páginas), construindo uma poética que é um verdadeiro monumento literário. Uma versão sul americana do que Proust fez com seu Em Busca do Tempo Perdido. Por isso é uma leitura que demanda esforço e concentração.
Mas a trama em si se sustenta, e somos levados por ela, nos transportando para o povoado mágico de Macondo, onde os Bendia são uma das famílias de maior prestigio. O elemento fantástico permeia toda a trama, e constantemente somos apresentados à situações no mínimo incomuns. Assim, o mundo de Garcia Marquez é um mundo só seu, do qual somos convidados para explorar. Mas é um mundo tão sólido, construído sobre alicerces tão fortes que é a palavra, que chegamos a sentir seu gosto. Mesmo depois de ter terminado o livro, não é possível esquecer-se do que acabamos de ler, ao contrário, é como se a Macondo mágica do livro construísse uma parte sua em nós.
O grande apelo da obra está na capacidade do autor de fazer entrever as questões existenciais de seus personagens através da história do lugar onde estes habitam, pois a cidade imaginária da história começa e termina com a chegada do primeiro e a morte do último membro da família, o que demonstra que a geografia do romance é meramente simbólica. Do mais, ele faz da história da própria América Latina a matéria prima que gera os fatos narrados no romance. Deste modo, Marquez entrelaça a existência humana em sua solidão natural e brutal, que busca a inatingível plenitude ao lado de outros sujeitos igualmente solitários, costurando a relação dessa busca com o ambiente em que vive o homem. Motivo pelo qual a solidão do romance é tão latina, tão nossa.
De mais, não falarei sobre o livro, pois acho que cada um precisa ter uma experiência com essa obra fantástica. Por isso, se não leu Cem Anos de Solidão, não perca aquela que será uma das leituras mais incríveis de sua vida.


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