quinta-feira, 1 de janeiro de 2015

Os melhores e os piores livros de 2014



Ano novo, vida nova, clichê velho, tanto quanto o velho clichê das promessas de ano novo, mas é meio por ai que vamos abrir esse 2015 e nem é tanto por falta de ideias. O blog andou meio parado nos últimos seis meses, e por isso o primeiro grande ato do ano vai ser reviver isso aqui, tirar as teias, espantar as moscas e raspar uns pelos, mas é melhor não explicar isso. Em todo caso, garantir um ano com muito mais conteúdo vai ser meu objetivo em 2015 (eis nossa promessa). E, como não deixa de ser nem no mundo da literatura, é hora de fazer o balanço, dos melhores e piores livros lidos nesse falecido 2014 (e que já foi BEM tarde, na minha opinião). Infelizmente, para mim, não foi um ano de grande descobertas literárias, mas isso provavelmente foi reflexo do meu desleixo como leitor esse ano. 2014 foi o ano em que menos li (desde que comecei a fazer contagem de livros lidos), e sim, eu me envergonho disso! Entretanto (outra promessa de ano novo aqui! – quantos parênteses, meu Deus!), nesse ano eu vou virar a mesa e bater meu recorde. E enquanto isso não ocorre, eu preparei um balanço do que mais me marcou e do que menos foi relevante, apesar de não ter tido nenhum livro que eu tenha detestado ou desgostado muito, tudo foi um pouquinho bom pelo menos. Mas vamos começar com os melhores:

Melhores livros de 2014:


01-  A Caverna – José Saramago
Eu gosto MUITO do Saramago desde que eu li (há uns dois, três anos) o Ensaio Sobre Cegueira, e desde então eu não havia lido mais nada. Esse ano eu compensei, e li As Intermitências da Morte, que vi muitos blogs falando que era maravilhoso, e tal, o que, aproposito, é verdade absoluta. O livro tem uma construção maravilhosa, que já começa (estou falando literalmente da primeira palavra) de um jeito curioso e termina de uma forma redondinha. Entretanto, senti que faltou o mesmo “óóóó” do Ensaio Sobre a Cegueira. Felizmente, li também A Caverna, por causa da faculdade, e acabou sendo uma das melhores leituras não só do ano, como da minha vida. O livro trata da representação do mito da caverna que Platão escreveu dois mil anos atrás adaptado para o presente. Nessa recontagem do mito, o homem moderno não está preso na caverna, ele quer fugir para a caverna, o que é representado por um centro comercial que encarna simbolicamente o consumismo. É um livro político e humanista ao mesmo tempo, que trata das relações humanas em todos os níveis: pessoais, interpessoais, familiares, sociais, etc. E te faz ter muitas reflexões. Mas vou falar melhor sobre ele em uma resenha em breve.




02-  Budapeste – Chico Buarque
Eu precisava ler esse livro! Para tentar redimir o Chico Buarque para mim. Eu havia lido Benjamim há algum tempo (ano retrasado eu acho) e não gostei. Achei interessante, mas não chegava nem de perto no que eu esperava. Budapeste, por outro lado, me ganhou já nas primeiras páginas. Primeiro porque é sempre bom ler um autor brasileiro contemporâneo que não trate nem de violência, nem de triângulos amorosos, nem fale em prosa poética. Segundo porque o romance é leve em sua linguagem e denso em sua profundidade, mergulhando no poder das palavras e na significação das palavras sobre quem as profere, no caso o autor do livro, o que cria um efeito metalinguístico incrivelmente poético (entendedores entenderão). Em todo caso, também foi uma leitura que valeu pelo ano e me fez querer ler o mais rápido possível mais coisas do Chico (principalmente depois das últimas eleições). Além disso, na minha humilde opinião, eu acho que a literatura brasileira precisa de autores tão diferentes assim, e com urgência.



03-  Homem Comum – Philip Roth
Outro livro que entrou para as melhores leituras da minha vida, O Homem Comum foi inclusive eleito por uma revista americana como um dos melhores livros da primeira década do século XXI, em níveis mundiais (um poder, claro, que só os americanos acham que têm, mas enfim, o livro consta na mesma lista que vários de livros de autores de todas as nacionalidades). O romance faz uma análise da morte e, mais propriamente, da fim da vida, mas não vou comentar muito porque já tem resenha no blog. Em todo caso, foi meu segundo livro do Philip Roth, e pela segunda vez o cara não me decepcionou.



04-  A Espera De Um Milagre – Stephen King
Esse é um daqueles livros que a gente se pergunta: “por que demorei tanto para ler?”. Eu queria tanto ler que nem tinha assistido ao filme, que é super cotado e amado por quem viu (e provavelmente por isso não gostei). Chorei lágrimas até embaçar a visão e ter que parar de ler para enxugar, e fiquei fascinado com esse Stephen King que eu não conhecia, porque ou o tradutor era melhor do que ele, ou o cara realmente sabe escrever boa prosa, e como fã do autor que já leu muitos livros dele, eu nunca tinha encontrado um texto tão refinado e bem trabalhado como em A Espera de Um Milagre. É literatura com L maiúsculo. Mas, não vou falar muito porque já fiz uma resenha e com certeza grande maioria do planeta já conhece muito bem a história.


E fica aqui uma menção honrosa para 2001: Uma Odisseia no Espaço, de Arthur C. Clarke, que me fez sofrer por saber que minha geração nunca vai pisar em outro planeta, muito menos outra galáxia; Entre Quatro Paredes, de Jean-Paul Sartre, que foi a primeira obra literária do autor que li e me deixou atônito; A Paixão Do Socialismo – De Vagões E Vagabundo, de Jack London, que me deixou pobre, porque me fez comprar uns dez livros do cara e já já vou fazer uma resenha sobre o livro; e finalmente a obra de ensaios Como Morrem Os Pobres, de George Orwell, que na minha opinião mostra o verdadeiro talento do cara, que era melhor ensaísta que romancista.


E, por fim, os não tão bons de 2014:


01-  Doutor Sono – Stephen King
Em primeiro lugar, preciso dizer, que gostei do livro sim, só que para ser a continuação da GRANDE obra do King eu esperava mais, ou seja, o que me desanimou no livro foi, como sempre, as minhas próprias expectativas. Em todo caso, já fiz resenha, e comentei que a mudança drástica na estrutura narrativa é o ponto forte na medida em que reflete os gostos do leitor de hoje, mas, por outro lado, destoa com qualquer expectativa que eu tinha.


02-  A Festa Da Insignificância – Milan Kundera
Então, motivos para os quais eu não gostei de um livro do Kundera, o que foi uma surpresa terrível para mim: primeiro, eu me senti burro lendo, porque tenho certeza que deixei escapar todas as nuances de subentendidos que fizeram o livro ser classificado como um dos melhores do ano pela crítica no Brasil; segundo, seja lá o digam, não é o autor de A Insustentável Leveza do Ser. Ele arriscou algo totalmente novo, o que foi chato, porque cada romance do Kundera é novo, mesmo sendo sempre ele. Nesse caso, faltou a profundidade, a leveza e a beleza que eu gosto tanto. Apesar que, como leitor de sua teoria, eu encontrei todos os elementos que o autor aprecia na obra. Mas não gostei!


03-  Amalgama – Rubem Fonseca
Outro dos meus autores favoritos, Rubem Fonseca é provavelmente o escritor brasileiro que eu mais curto e é o único autor que eu tenho a bibliografia completa, e apesar de não ter gostado nada dos seus últimos três livros, eu provavelmente vou continuar comprando os futuros na esperança de que ele volte a ser o que era. Porque se continuar assim, é melhor se aposentar.


04-  O Príncipe Da Névoa – Carlos Ruiz Zafón

Eu pensei que ia ter um eterno caso de amor com o Zafón, aí eu li esse livro. Vale ressaltar que não é ruim, mas é o primeiro livro dele, foi escrito para um público mais novo que o público de A Sombra do Vento e muito tempo antes. Logo, isso faz a gente perdoar a ausência daquilo que encanta na obra dele, aquela sensação de estar lendo um livro revelador. Mas como entretenimento é até aceitável. 

E é isso! A postagem ficou um pouco longa, mas 365 dias é um tempo bem longo, mesmo para quem leu pouco como eu, logo, foi uma medida proporcional. E agora, que venha 2015 com livros ainda melhores! \o