Essa é uma teg
que é (foi) muito popular nos canais literários do youtube e nos blogs sobre
livros. Mas, como O Correio das Letras só nasceu agora viemos resgatar essa ideia (com um pouquinho de atraso, rs). Mas, acho ela bem pertinente, até
porque, em plena geração 150 caracteres, o tempo para a leitura é tão fluido e
curto que, a menos que o livro seja muito bom, dificilmente um leitor médio
ficaria grudado em 800 páginas. (Ainda bem que existem os santos George R. R.
Marin e o Stephen King, com seus livros quilométricos para dar uma equilibrada
no mercado editorial de hoje em dia).
É bem verdade
que é uma tendência da literatura contemporânea ser mais enxuta, e essa
brevidade bem uma questão estética, que tudo tem haver com nosso tempo, o que
faz com que as obras se enxuguem cada vez mais, ainda assim, essa “objetividade”
toda não anula o mais importante de um livro: seu poder sobre o leitor.
As novas técnicas
narrativas contam a história muitas vezes até pelo que deixam de contar, e sem
os pensamentos prontos e os sentidos mastigados que antes enchiam os livros a
boa literatura tem se condensado cada vez mais em pequenas obras.
O que se segue
é uma pequena lista de sugestões com obras pequenas na forma, mas gigantes no conteúdo!
(sim, eu sei, isso horrível), para quem tem pouco tempo, ou para quem apenas
quer ter uma leitura mais rápida. Procuramos variar um pouco os assuntos, países
de origem, época, etc. Literatura de um dia para todos os gostos:
01- A revolução
dos bichos – George Orwell
Verdadeiro
clássico moderno, concebido por um dos mais influentes escritores do século 20,
"A Revolução dos Bichos" é uma fábula sobre o poder. Narra a
insurreição dos animais de uma granja contra seus donos. Progressivamente,
porém, a revolução degenera numa tirania ainda mais opressiva que a dos humanos
Escrita em plena
Segunda Guerra Mundial e publicada em 1945 depois de ter sido
rejeitada por várias editoras, essa pequena narrativa causou desconforto ao
satirizar ferozmente a ditadura stalinista numa época em que os soviéticos
ainda eram aliados do Ocidente na luta contra o eixo nazifascista. De fato, são
claras as referências: o despótico Napoleão seria Stálin, o banido Bola-de-Neve
seria Trotsky, e os eventos políticos - expurgos, instituição de um estado
policial, deturpação tendenciosa da História - mimetizam os que estavam em
curso na União Soviética. Com o acirramento da Guerra Fria, as mesmas razões
que causaram constrangimento na época de sua publicação levaram A revolução dos
bichos a ser amplamente usada pelo Ocidente nas décadas seguintes como arma
ideológica contra o comunismo. O próprio Orwell, adepto do socialismo e inimigo
de qualquer forma de manipulação política, sentiu-se incomodado com a
utilização de sua fábula como panfleto.
02- A
metamorfose – Franz Kafka
A
Metamorfose é a mais célebre novela de Franz Kafka e uma das mais importantes
de toda a história da literatura. O texto coloca o leitor diante de um
caixeiro-viajante - o famoso Gregor Samsa - transformado em inseto monstruoso.
A partir daí, a história é narrada com um realismo inesperado que associa o
inverossímil e o senso de humor ao que é trágico, grotesco e cruel na condição
humana - tudo no estilo transparente e perfeito desse mestre inconfundível da
ficção universal.
03- Secreções,
excreções e desatinos – Rubem Fonseca
Rubem
Fonseca apresenta um conjunto de contos em que a fisiologia do corpo humano se
associa a desatinos da alma. São ao todo catorze contos. As personagens e/ou
situações desta coletânea podem ser consideradas fora do comum. Entretanto, o
tom dos narradores (quase sempre os protagonistas) é calmo, sereno,
desapaixonado. Por mais estranhas que pareçam, as histórias são contadas como
se não houvesse nelas nada de excepcional.
04- A Morte em
Veneza – Thomas Mann
Publicado
em 1912, A
Morte em Veneza conta a estória do escritor alemão Gustav von Aschenbach, que
vai passar férias em
Veneza. Lá , apaixona-se platonicamente pelo jovem polonês
Tadzio, de 14 anos, e passa os dias a admirá-lo. O livro praticamente traz
considerações de Aschenbach sobre as dicotômicas beleza natural do jovem e a
arte da escrita tão arduamente trabalhada por ele. Ou sobre juventude e
velhice, sabedoria e ignorância, saúde e doença.
05- A Morte de
Ivan Ilitch – Liev Tolstoi
Em
agosto de 1883, duas semanas antes de falecer, o escritor russo Ivan Turguêniev
escreveu a Tolstói: "Faz muito tempo que não lhe escrevo porque tenho
estado e estou, literalmente, em meu leito de morte. Na realidade, escrevo
apenas para lhe dizer que me sinto muito feliz por ter sido seu contemporâneo,
e também para expressar-lhe minha última e mais sincera súplica. Meu amigo,
volte para a literatura!". O pedido de Turguêniev alude ao fato de que
Tolstói havia então abandonado a arte e renegado toda sua obra pregressa para
se dedicar à vida espiritual. Embora não se possa dizer com certeza em que
medida as palavras de Turguêniev repercutiram em Tolstói, é certo que A morte
de Ivan Ilitch, publicada em 1886, foi a primeira obra literária que ele
escreveu após seu retorno às letras mdash; e que se trata de um dos textos mais
impressionantes de todos os tempos. Considerada por Nabokov uma das obras
máximas da literatura russa mdash; e por muitos uma das mais perfeitas novelas
já escritas mdash;, A morte de Ivan Ilitch ganha agora nova edição em língua
portuguesa, com tradução e posfácio de Boris Schnaiderman, e, em apêndice,
texto de Paulo Rónai sobre o autor e sua obra.
06- Os espiões
– Luis Fernando Veríssimo
Luis
Fernando Verissimo constrói, neste livro, uma alegoria híbrida de mitologia,
humor e mistério. Ainda se curando da ressaca do final de semana, na manhã de
uma terça-feira, o funcionário de uma pequena editora recebe um envelope
branco, endereçado com letras de mãos trêmulas. Dentro, as primeiras páginas de
um livro de confissões escrito por uma certa Ariadne, que promete contar sua
história com um amante secreto e depois se suicidar. Atormentado por sonhos
românticos, esse boêmio frustrado com seu casamento, e infeliz no trabalho,
decide tomar uma atitude - descobrir quem é Ariadne e, se possível, salvá-la da
morte anunciada. Na mitologia grega, ela ajuda Teseu a sair do labirinto. No
entanto, o autor cria uma Ariadne ao contrário, que vai enfeitiçando o
protagonista e seus amigos de bar, os espiões deste livro.
07- Invenção e
memória – Lygia Fagundes Telles
Guardar
momentos na caixa de sonha, e depois entreabri-la com as mãos do imaginário e
da fantasia para mostrar o seu conteúdo, guardado com carinho, ao leitor. A
descoberta é só prazer. Lygia ama tanto o sonho como a criação. São quinze
histórias onde flashes da infância e da juventude ganham cores e sabores no
processo de criação. A menina que descobre os mistérios da solidão em "Que
se chama solidão" ou da morte - tema tão recorrente na obra da autora -,
em "Suícidio na granja". Um amargo e profundo questionamento da
maturidade do envelhecimento em "Se és capaz"; deliciosas fantasias
adolecentes como "Dança com o anjo" e "Cinema Gato Preto".
Invenção e memória, na evocação de cenas e estados de alma da infância e da
adolescência, atinge um dos mais belos efeitos da obra da autora. Os desfechos
surpreendentes provocam o imaginário do leitor e nos convidam a completar, a
colocar um ponto final.
08- O
estrangeiro – Albert Camus
"O
Estrangeiro", tão popular porque, à parte ser a seca narrativa das
desventuras de Meursault, condenado à morte por matar um árabe a troco de nada,
é também a narrativa das desventuras de um homem do século XX. Uma
autobiografia de todo mundo. Mersault leva uma vida banal; recebe,
indiferentemente, a notícia da morte da mãe; comete o crime; é preso; julgado;
tudo gratuito, sem sentido, apenas mais um homem arrastado pela correnteza da
vida e da História.
09- Muitas
vozes – Ferreira Gullar
Em
“Muitas Vozes” (1999), Ferreira Gullar reúne a produção dos últimos doze anos e
demonstra que recorta as cenas do cotidiano com reflexões agudas, traçando
imagens ao mesmo tempo delicadas e provocadoras. Segundo o próprio autor, a
fúria presente em todos os seus livros anteriores, neste está amainada. É um
livro mais reflexivo, em que a temática da morte está muito presente, não como
medo mas como reflexão. Ouve-se o eco de toda experiência do poeta acumulada ao
longo de quase sete décadas. Foi preciso muita coisa passar: o exílio, depois a
morte rondar perto, familiar e sem ênfase; os mortos restarem no abandono do
chão impenetrável; o silêncio crescer dos ausentes ao cosmos.
10- A humilhação
– Philip Roth
Aos 65
anos, Simon Axler, um renomado ator de teatro, sobe no palco e constata que não
sabe mais atuar. De uma hora para outra toda sua autoconfiança se esvai, e ele
perde a capacidade de interpretar os personagens que, ao longo de uma extensa
carreira artística, haviam lhe trazido renome. A partir daí, sua vida entra
numa espiral de perdas: a mulher vai embora, o público o abandona e seu agente
não consegue convencê-lo a retomar o trabalho. Obcecado com a ideia do
suicídio, Simon se interna numa clínica psiquiátrica.
No meio
desse relato terrível de uma autoanulação inexplicável e apavorante, irrompe um
enredo em sentido contrário. Simon se envolve numa relação passional com uma
mulher mais jovem, homossexual, filha de um casal de atores que ele conheceu na
juventude. Nasce daí um desejo erótico avassalador, um consolo para uma vida de
privação, mas tão arriscado e aberrante que aponta não para o conforto e a
gratificação, e sim para um desenlace ainda mais negro e chocante.
11- Liquidação
– Imre
Kertész
B., um
escritor húngaro, suicida-se e deixa como legado uma peça de teatro intitulada
Liquidação. Um dos personagens do manuscrito é o editor de B., Amargo, o
protagonista deste desconcertante romance do ganhador do Premio Nobel de
Literatura de 2002, Irme Kerstész. É Amargo que, analisando a peça e
investigando as causas mais profundas de um gesto tão radical.
Não
espere aqui as convenções e peripécias do gênero policial. A investigação de
Amargo esta menos preocupada com os fatos - com a possível existência de outro
manuscrito obscuro - do que com suas ressonâncias éticas e filosóficas. B. é
uma das poucas crianças nascidas em Auschwitz, e o suicídio remete á condição
individual possível em meio à armadilha histórica: assim como a Hungria e o
próprio Kerstesz, o personagem passou a maior parte do século XX dividindo
entre o totalitarismo de Hitler e o de Stalin.
12- Herdando
uma biblioteca – Miguel Sanches Neto
Coleção de crônicas
onde Miguel Sanches Neto conversa com o leitor sobre seu processo de formação
de leitura, bem como a vida e as desventuras de um crítico literário.
13- Pulp –
Charles Bukovwski
A saga
de Nick Belane poderia até ser igual a de tantos outros detetives de se gunda
categoria que perambulam pelas largas ruas de Los Angeles. Mas aqui, mulheres
inacreditáveis cruzam pernas compridas e falam aos sussurros, principalmente
uma que atende pelo nome de Dona Morte. Como nos velhos livros policiais de
papel vagabundo, subliteratura pura, a quem Charles Bukowski dedica solenemente
Pulp.
14- O velho e o mar - Ernest Hemingwa
Essa é a história de um homem que convive com a solidão do alto-mar, com seus sonhos e pensamentos, sua luta pela sobrevivência e sua inabalável confiança na vida. Esse é o fio do enredo - fio tenso como o que prende na ponta da linha o grande peixe que acaba de ser pescado - com o qual Hemingway arma uma das mais belas obras da literatura contemporânea. Há 84 dias que Santiago, um velho pescador, não apanhava um único peixe. Por isso já diziam se tratar de um salao, ou seja, um azarento da pior espécie. Mas Santiago possui têmpera de aço, acredita em si mesmo, e parte sozinho para o mar alto, munido da certeza de que, desta vez, será bem- sucedido no seu trabalho.