sábado, 3 de agosto de 2013

Crônica: O Psicopata da FAFIPA, ou Psicose Social - Uma História Real



Aos profissionais da moda, com licença, mas é preciso dizer que o Medo é uma forte tendência para a próxima estação. E nem se trata das velhas fobias que a sociedade moderna coleciona aos montes no armário, ou da constante tensão provocada pela irradiação progressiva da violência. Trata-se de algo mais focalizado, de um Medo refinado, direcionado e louvado pelos meios de comunicações, que vem e que passa, como as estações das frutas. Trata-se das tendências à paranoia que emergem e desaparecem ao menos duas vezes ao ano, sempre diferentes, sempre terríveis, sempre proclamando o final dos tempos, o apocalipse, a decadência iminente da sociedade, a falta de Jesus no coração e todos os males causados pela escassez de sexo. E pronto! Lá vão todos os especialistas das sortes mais obscuras desfilarem sua verborragia prolixa sobre o problema generalizado, ao fundo musical a lá Hitchcock, terminando em um crescente lacrimoso com as vítimas sobreviventes do terror. Não basta serem vítimas ou algozes, é preciso se tornar celebridade!
E nessa indústria que nunca dorme, a última tendência começou em uma escola no Rio de Janeiro: um jovem armado atirou à sangue frio em vários amiguinhos, provocando várias mortes. Ó, céus! Que terrível! A nação está chocada! É preciso fazer todo um reality show sobre a catástrofe, 24 horas inteiras de cobertura imparcial, ao som de músicas tristes, apelos chorosos de mães em busca de justiça e a foto do meliante elevada às proporções do macabro: “olhe esse cara, com certeza ele é um assassino!”. Tragam os especialistas para discutirem o caso. Revivam a catástrofe de novo e de novo e de novo. Vejam, está é a melhor reconstrução da tragédia. Nova palavra nacional favorita: tragédia. No facebook já começam as correntes, fotos do assassino, pedidos de oração para as famílias das vítimas, convites ao criminoso para visitar Brasília. No rádio o top 10 é a biografia detalhada do assassino. Que tragédia, que tragédia! Só parem de pensar sobre isso no horário da novela. Mas, no outro canal, o ancora adverte: “as cenas que se seguem são chocantes, crianças e pessoas com problemas cardíacos devem mudar de canal.” Um gesto altruísta e desinteressado, que por coincidência eleva o ibope aos céus. Mas voltemos aos estilistas do Medo, os especialistas convocados para os programas “família” da manha: o psicólogo, o psiquiatra, o policial, o professor, o padre, o pai de santo, o representante do movimento gay no Amazonas. Todos com opiniões fortes para compartilhar e ideias batidas totalmente inéditas, seguida de um minucioso retrato da psique de um psicopata: nova palavra nacional favorita, psicopata! E de repente, vagas imensas da massa do público se tornam, da noite para o dia, especialistas em psicopatia. Os professores reconhecem ao menos dois psicopatas por cada turma. O açougueiro reconhece pelo menos metade dos seus fregueses. Os vereadores decidem não mais fazerem sessões na câmara, porque com certeza os representantes da oposição são psicopatas!
Mas vejam o que aconteceu em uma certa universidade do interior do estado, uma tal de Fafipa. Ouvem-se gritos, certa movimentação, a policia é chamada: ora, alguém morreu? Não! Infelizmente ainda não, mas pior! Um psicopata foi identificado pelas centenas de especialistas formados pela televisão.
Lá vai ele, marchando pelos corredores olhando para o chão e em passos fortes e rápidos, ostentando sua barba assustadora e um penteado ao estilo Renato Russo. Como sabem que ele é psicopata? Você não soube? Minha prima disse que uma colega de classe da irmã dela disse que a tia da sua cunhada disse que o namorado do irmão mais velho do vizinho, que faz Letras, viu na página do Orkut dele todo tipo de mensagens politicas e religiosas extremistas, dizendo que gostou do que aquele primeiro psicopata fez no Rio de Janeiro e que quer repetir na Fafipa! Só falta que exista uma comunidade só para psicopatas no Orkut: Psicopatas do Brasil. Mas você viu o Orkut dele, não, mas eu acredito na minha prima!
Agora é oficial, basta o psicopata da Fafipa sair aos corredores e todos os alunos, de tanto medo e por estarem completamente apavorados, correm até às portas de suas salas para verem-no passar. É ele, é ele, que medo!, que medo!. De repente começam os gritos. Uma mocinha linda e um pouco carente entra trêmula e ofegante, dizendo: “eu o vi.” Imediatamente se forma um grupo ao redor dela para perguntar detalhes, quando uma segunda mocinha linda e um pouco carente começa a chorar: “ele passou por mim, ele vai me matar!” O grupo instantaneamente se desloca da primeira mocinha linda e um pouco carente para a segunda. A primeira, ainda desolada e agora sem público começa a gritar e arrancar os cabelos inconsolável: “e se ele me matar?” O grupo volta correndo para ampará-la, quando a segunda subitamente desmaia!
E como ele faz para marcar as vítimas? Eis uma pergunta complexa, pois ele usa um método de possível inserção psicofísica de validação da inércia: ele esbarra em suas vítimas! Se você trombar com ele no corredor comece a orar à Deus, ao Buda, à Alá, aos orixás, ao Olimpo, porque você irá com toda certeza absoluta do universo morrer! Mas o pior só acontece por último: uma data é marcada na parede do banheiro masculino! Por dedos invisíveis como na bíblia? Não, de modo ainda mais impressionante: com errorex! E nessa data todos já sabem: é o dia da colheita! Ele virá armado até os dentes, com duas metralhadoras, um fuzil, vinte granadas e uma motosserra elétrica para matar todos os universitários!
Bastou isso para se iniciar a avalanche de pânico e temores coletivos: alguém deveria pesquisar isso, seria o Medo algo transmitido pelo ar? Enfim, já não se falava em outra coisa nos ônibus e grupos de alunos. Só no terrível psicopata – alguém sabe, por um acaso, como diabos ele se chama? – e na data fatídica onde suas vidas terminariam. Ninguém pareceu levar em conta que aquele psicopata, apesar de ser um psicopata, era um sujeito legal, que avisava suas vítimas sobre o dia do seu ataque para terem tempo assim de colocar suas coisas em ordem antes de deixar esse mundo. Mais do que isso, pensem a frustração do psicopata ao chegar no dia marcado e perceber que suas ovelhinhas haviam faltado. Com certeza ele sentaria no meio-fio do estacionamento, ainda vestindo seu arsenal e começaria a chorar: “Oh, Deus, eles são tão espertos! Bem que a minha mãe me disse para fazer Letras ao invés de matar pessoas...” A pressão se tornou tão grande que nem os professores querem pisar na universidade no dia marcado. Aula vaga em prol da vida! Isso que é humanitarismo.
Finalmente a data marcada chega e passa e, nenhuma morte acontece? Os alunos aliviados e profundamente decepcionados decidem voltar para suas aulas regulares. Nem 24 horas se passam e o terrível pesadelo do psicopata começa a esfriar. Mas esperem! Quem é aquele rapaz bonito no ponto de ônibus? Meu Deus, é o psicopata! Ele tirou a barba! E de repente, o terrível inimigo público número um recebe centenas de solicitações no Facebook. Ah!, bem que ele podia esbarrar em mim agora... Suspiram as mocinhas lindas e um pouco carente.

Mas enfim, a época dos psicopatas passou e agora a moda é queda de aviões. Então, abram seus guarda-chuvas e apertem bem o sinto, porque essa é uma moda que promete decolar! 
Seja como for, o que se podemos dizer desse mercado da moda? Voltemos essa noite em silêncio para casa Senhoras e Senhores, porque na passarela da sociedade, quem diria?!, até os psicopatas sofrem de bullying.

Por: André Moreira Felix

Um comentário:

  1. Após o caso do suposto caso do psicopata da Fafipa, ele foi morar na mesma república que eu morava. Deu um monte de problemas e expulsamos ele de lá. E o pior, levou o meu livro do Nietzsche.

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