quarta-feira, 31 de julho de 2013

Livros para se ler em um dia



Essa é uma teg que é (foi) muito popular nos canais literários do youtube e nos blogs sobre livros. Mas, como O Correio das Letras só nasceu agora viemos resgatar essa ideia (com um pouquinho de atraso, rs). Mas, acho ela bem pertinente, até porque, em plena geração 150 caracteres, o tempo para a leitura é tão fluido e curto que, a menos que o livro seja muito bom, dificilmente um leitor médio ficaria grudado em 800 páginas. (Ainda bem que existem os santos George R. R. Marin e o Stephen King, com seus livros quilométricos para dar uma equilibrada no mercado editorial de hoje em dia).
É bem verdade que é uma tendência da literatura contemporânea ser mais enxuta, e essa brevidade bem uma questão estética, que tudo tem haver com nosso tempo, o que faz com que as obras se enxuguem cada vez mais, ainda assim, essa “objetividade” toda não anula o mais importante de um livro: seu poder sobre o leitor.
As novas técnicas narrativas contam a história muitas vezes até pelo que deixam de contar, e sem os pensamentos prontos e os sentidos mastigados que antes enchiam os livros a boa literatura tem se condensado cada vez mais em pequenas obras.

O que se segue é uma pequena lista de sugestões com obras pequenas na forma, mas gigantes no conteúdo! (sim, eu sei, isso horrível), para quem tem pouco tempo, ou para quem apenas quer ter uma leitura mais rápida. Procuramos variar um pouco os assuntos, países de origem, época, etc. Literatura de um dia para todos os gostos:

01- A revolução dos bichos – George Orwell
Verdadeiro clássico moderno, concebido por um dos mais influentes escritores do século 20, "A Revolução dos Bichos" é uma fábula sobre o poder. Narra a insurreição dos animais de uma granja contra seus donos. Progressivamente, porém, a revolução degenera numa tirania ainda mais opressiva que a dos humanos Escrita em plena Segunda Guerra Mundial e publicada em 1945 depois de ter sido rejeitada por várias editoras, essa pequena narrativa causou desconforto ao satirizar ferozmente a ditadura stalinista numa época em que os soviéticos ainda eram aliados do Ocidente na luta contra o eixo nazifascista. De fato, são claras as referências: o despótico Napoleão seria Stálin, o banido Bola-de-Neve seria Trotsky, e os eventos políticos - expurgos, instituição de um estado policial, deturpação tendenciosa da História - mimetizam os que estavam em curso na União Soviética. Com o acirramento da Guerra Fria, as mesmas razões que causaram constrangimento na época de sua publicação levaram A revolução dos bichos a ser amplamente usada pelo Ocidente nas décadas seguintes como arma ideológica contra o comunismo. O próprio Orwell, adepto do socialismo e inimigo de qualquer forma de manipulação política, sentiu-se incomodado com a utilização de sua fábula como panfleto. 




02- A metamorfose – Franz Kafka
A Metamorfose é a mais célebre novela de Franz Kafka e uma das mais importantes de toda a história da literatura. O texto coloca o leitor diante de um caixeiro-viajante - o famoso Gregor Samsa - transformado em inseto monstruoso. A partir daí, a história é narrada com um realismo inesperado que associa o inverossímil e o senso de humor ao que é trágico, grotesco e cruel na condição humana - tudo no estilo transparente e perfeito desse mestre inconfundível da ficção universal. 







03- Secreções, excreções e desatinos – Rubem Fonseca
Rubem Fonseca apresenta um conjunto de contos em que a fisiologia do corpo humano se associa a desatinos da alma. São ao todo catorze contos. As personagens e/ou situações desta coletânea podem ser consideradas fora do comum. Entretanto, o tom dos narradores (quase sempre os protagonistas) é calmo, sereno, desapaixonado. Por mais estranhas que pareçam, as histórias são contadas como se não houvesse nelas nada de excepcional.





04- A Morte em Veneza – Thomas Mann
Publicado em 1912, A Morte em Veneza conta a estória do escritor alemão Gustav von Aschenbach, que vai passar férias em Veneza. Lá, apaixona-se platonicamente pelo jovem polonês Tadzio, de 14 anos, e passa os dias a admirá-lo. O livro praticamente traz considerações de Aschenbach sobre as dicotômicas beleza natural do jovem e a arte da escrita tão arduamente trabalhada por ele. Ou sobre juventude e velhice, sabedoria e ignorância, saúde e doença.




05- A Morte de Ivan Ilitch – Liev Tolstoi
Em agosto de 1883, duas semanas antes de falecer, o escritor russo Ivan Turguêniev escreveu a Tolstói: "Faz muito tempo que não lhe escrevo porque tenho estado e estou, literalmente, em meu leito de morte. Na realidade, escrevo apenas para lhe dizer que me sinto muito feliz por ter sido seu contemporâneo, e também para expressar-lhe minha última e mais sincera súplica. Meu amigo, volte para a literatura!". O pedido de Turguêniev alude ao fato de que Tolstói havia então abandonado a arte e renegado toda sua obra pregressa para se dedicar à vida espiritual. Embora não se possa dizer com certeza em que medida as palavras de Turguêniev repercutiram em Tolstói, é certo que A morte de Ivan Ilitch, publicada em 1886, foi a primeira obra literária que ele escreveu após seu retorno às letras mdash; e que se trata de um dos textos mais impressionantes de todos os tempos. Considerada por Nabokov uma das obras máximas da literatura russa mdash; e por muitos uma das mais perfeitas novelas já escritas mdash;, A morte de Ivan Ilitch ganha agora nova edição em língua portuguesa, com tradução e posfácio de Boris Schnaiderman, e, em apêndice, texto de Paulo Rónai sobre o autor e sua obra.


06- Os espiões – Luis Fernando Veríssimo
Luis Fernando Verissimo constrói, neste livro, uma alegoria híbrida de mitologia, humor e mistério. Ainda se curando da ressaca do final de semana, na manhã de uma terça-feira, o funcionário de uma pequena editora recebe um envelope branco, endereçado com letras de mãos trêmulas. Dentro, as primeiras páginas de um livro de confissões escrito por uma certa Ariadne, que promete contar sua história com um amante secreto e depois se suicidar. Atormentado por sonhos românticos, esse boêmio frustrado com seu casamento, e infeliz no trabalho, decide tomar uma atitude - descobrir quem é Ariadne e, se possível, salvá-la da morte anunciada. Na mitologia grega, ela ajuda Teseu a sair do labirinto. No entanto, o autor cria uma Ariadne ao contrário, que vai enfeitiçando o protagonista e seus amigos de bar, os espiões deste livro.



07- Invenção e memória – Lygia Fagundes Telles
Guardar momentos na caixa de sonha, e depois entreabri-la com as mãos do imaginário e da fantasia para mostrar o seu conteúdo, guardado com carinho, ao leitor. A descoberta é só prazer. Lygia ama tanto o sonho como a criação. São quinze histórias onde flashes da infância e da juventude ganham cores e sabores no processo de criação. A menina que descobre os mistérios da solidão em "Que se chama solidão" ou da morte - tema tão recorrente na obra da autora -, em "Suícidio na granja". Um amargo e profundo questionamento da maturidade do envelhecimento em "Se és capaz"; deliciosas fantasias adolecentes como "Dança com o anjo" e "Cinema Gato Preto". Invenção e memória, na evocação de cenas e estados de alma da infância e da adolescência, atinge um dos mais belos efeitos da obra da autora. Os desfechos surpreendentes provocam o imaginário do leitor e nos convidam a completar, a colocar um ponto final.



08- O estrangeiro – Albert Camus
"O Estrangeiro", tão popular porque, à parte ser a seca narrativa das desventuras de Meursault, condenado à morte por matar um árabe a troco de nada, é também a narrativa das desventuras de um homem do século XX. Uma autobiografia de todo mundo. Mersault leva uma vida banal; recebe, indiferentemente, a notícia da morte da mãe; comete o crime; é preso; julgado; tudo gratuito, sem sentido, apenas mais um homem arrastado pela correnteza da vida e da História.






09- Muitas vozes – Ferreira Gullar
Em “Muitas Vozes” (1999), Ferreira Gullar reúne a produção dos últimos doze anos e demonstra que recorta as cenas do cotidiano com reflexões agudas, traçando imagens ao mesmo tempo delicadas e provocadoras. Segundo o próprio autor, a fúria presente em todos os seus livros anteriores, neste está amainada. É um livro mais reflexivo, em que a temática da morte está muito presente, não como medo mas como reflexão. Ouve-se o eco de toda experiência do poeta acumulada ao longo de quase sete décadas. Foi preciso muita coisa passar: o exílio, depois a morte rondar perto, familiar e sem ênfase; os mortos restarem no abandono do chão impenetrável; o silêncio crescer dos ausentes ao cosmos.



10- A humilhação – Philip Roth
Aos 65 anos, Simon Axler, um renomado ator de teatro, sobe no palco e constata que não sabe mais atuar. De uma hora para outra toda sua autoconfiança se esvai, e ele perde a capacidade de interpretar os personagens que, ao longo de uma extensa carreira artística, haviam lhe trazido renome. A partir daí, sua vida entra numa espiral de perdas: a mulher vai embora, o público o abandona e seu agente não consegue convencê-lo a retomar o trabalho. Obcecado com a ideia do suicídio, Simon se interna numa clínica psiquiátrica.
No meio desse relato terrível de uma autoanulação inexplicável e apavorante, irrompe um enredo em sentido contrário. Simon se envolve numa relação passional com uma mulher mais jovem, homossexual, filha de um casal de atores que ele conheceu na juventude. Nasce daí um desejo erótico avassalador, um consolo para uma vida de privação, mas tão arriscado e aberrante que aponta não para o conforto e a gratificação, e sim para um desenlace ainda mais negro e chocante. 


11- Liquidação – Imre Kertész
B., um escritor húngaro, suicida-se e deixa como legado uma peça de teatro intitulada Liquidação. Um dos personagens do manuscrito é o editor de B., Amargo, o protagonista deste desconcertante romance do ganhador do Premio Nobel de Literatura de 2002, Irme Kerstész. É Amargo que, analisando a peça e investigando as causas mais profundas de um gesto tão radical.
Não espere aqui as convenções e peripécias do gênero policial. A investigação de Amargo esta menos preocupada com os fatos - com a possível existência de outro manuscrito obscuro - do que com suas ressonâncias éticas e filosóficas. B. é uma das poucas crianças nascidas em Auschwitz, e o suicídio remete á condição individual possível em meio à armadilha histórica: assim como a Hungria e o próprio Kerstesz, o personagem passou a maior parte do século XX dividindo entre o totalitarismo de Hitler e o de Stalin.




12- Herdando uma biblioteca – Miguel Sanches Neto
Coleção de crônicas onde Miguel Sanches Neto conversa com o leitor sobre seu processo de formação de leitura, bem como a vida e as desventuras de um crítico literário.









13- Pulp – Charles Bukovwski
A saga de Nick Belane poderia até ser igual a de tantos outros detetives de se gunda categoria que perambulam pelas largas ruas de Los Angeles. Mas aqui, mulheres inacreditáveis cruzam pernas compridas e falam aos sussurros, principalmente uma que atende pelo nome de Dona Morte. Como nos velhos livros policiais de papel vagabundo, subliteratura pura, a quem Charles Bukowski dedica solenemente Pulp.



                             
14- O velho e o mar - Ernest Hemingwa
Essa é a história de um homem que convive com a solidão do alto-mar, com seus sonhos e pensamentos, sua luta pela sobrevivência e sua inabalável confiança na vida. Esse é o fio do enredo - fio tenso como o que prende na ponta da linha o grande peixe que acaba de ser pescado - com o qual Hemingway arma uma das mais belas obras da literatura contemporânea. Há 84 dias que Santiago, um velho pescador, não apanhava um único peixe. Por isso já diziam se tratar de um salao, ou seja, um azarento da pior espécie. Mas Santiago possui têmpera de aço, acredita em si mesmo, e parte sozinho para o mar alto, munido da certeza de que, desta vez, será bem- sucedido no seu trabalho.
                                



(Fontes das resenhas: www.skoob.com.br)

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