terça-feira, 27 de agosto de 2013

A flor da Inglaterra de George Orwell



Orwell é famoso entre os leitores brasileiros por 1984 e A revolução dos bichos. Não é para menos. As duas obras estão entre as cem obras mais aclamadas do Século XX, em várias listas literárias importantes. Mas, não é preciso falar que não são os únicos trabalho do autor inglês, conhecido por sua convicção inabalável naquilo que acreditava. Marxista e militante de esquerda ferrenho, participou de várias incursões por seus ideias, indo desde conflitos armados até posicionamentos extremamente pessoais. E é em seu livro, menos conhecido, mas igualmente notório, A flor da Inglaterra (Keep the aspidistra flying) que ele ataca diretamente o centro da filosofia capitalista inglesa.
Publicado em 1936, o livro apresenta ao leitor um protagonista digno de um personagem de Dostoievski. Gordon Comstock é um aspirante à poeta e um verdadeiro  Raskólnikov orwelliano (detalhe, “orwelliano” é uma palavra da língua portuguesa, cunhada com base nas obras de Orwell, e normalmente remetem a estados totalitários ou personagens esmagados pelo sistema hermético), sua personalidade, assim como a do protagonista de Crime e castigo é para lá de complexa, mudando no decorrer da narração do detestável para o odioso e finalmente para o ignóbil. Um verdadeiro anti-herói do submundo de Londres, cujo único objetivo na vida é lutar contra o dinheiro.
Exatamente, o dinheiro!, e tudo o que ele representa – que no livro é retratado na figura da aspidistra, planta comum nas casas de classe média britânicas, que simbolizam a mediocridade da vida burguesa – fugindo das imposições sociais que visão moldar e decepar a autonomia do sujeito.
George Orwell
Vive então entre a hipocondria e a misantropia, fechado numa atmosfera febril e não sem alguns delírios. Ao longo da narrativa, vai mudando de casas que vão de em péssimas condições para inabitáveis, enquanto suas roupas deterioram e ele fica sem folhas de papel para escrever. Ainda assim, persiste em sua luta contra o sistema, ignorando os apelos de sua namorada e seu melhor (único) amigo. Personagens estes, que muito lembram os demais heróis do romancista russo (ah! Gordon também tem uma irmã!).
Mas o parentesco com os russos (que sempre acabam de algum modo como temas das obras de Orwell), não é acidental. Assim como Raskólnikov era uma crítica a juventude dos tempos de Dostoiévski, Gordon é uma sátira extremamente ácida dos conceitos capitalistas do tempo de Orwell. E não é só essa a semelhança. Na verdade o romance está recheado de alusões ao Crime e Castigo, o próprio perfil dos personagens lembram isso: o anti-herói hipocondríaco e com uma personalidade instável que no final consegue se redimir, o amigo do herói que apesar de seu comportamento não o abandona, a irmã que se sacrifica incondicionalmente pelo amigo e a mulher tão pura de coração que o ama apesar de Gordon ser um ranzinza patológico.

Entretanto, apesar do parentesco com o romance do escritor russo, A flor da Inglaterra é uma sátira envolvente e densa, repleta de humor negro que, da melhor forma, faz o leitor rir e se chocar. 


            O dinheiro é o que Deus já foi. O bem e mau não significam mais nada, a não ser fracasso ou sucesso. (...) O decálogo fora reduzido a dois mandamentos. Um para os patrões – os eleitos, a casta sacerdotal do dinheiro, por assim dizer, – “ganharás dinheiro”; e outro para os empregados – seus escravos e subordinados, – “Não perderás o teu emprego”.
            - George Orwell. A flor da Inglaterra.



Outras capas:
Foi lançado no Brasil também sob o título de Mantenha o Sistema. Edição Itatiaia Editora

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