sábado, 27 de julho de 2013

A arte de possuir "bibliotecas"



        Herdar uma biblioteca, foi justamente essa ideia que me chamou a atenção quando decidi ler esse livro. Provavelmente porque eu, assim como muitos leitores, não tenho exatamente condições de comprar todos os livros que gostaria de ter, logo, "herdar" esses livros parecem uma boa saída. Enfim, essa ideia e conhecimento de que Miguel Sanches Neto é paranaense foram os motivos que me fizeram encarar esse livro (além do fato dele ter-me sido indicado por minha chefe - mas foi um pequeno detalhe esse... claaaaaaaaarooooo!...), por mais que eu não aprecie esse gênero em particular, que é a crônica (e ainda me julgo um leitor brasileiro!).
       Mas falemos de uma vez sobre a obra.
       Em primeiro lugar, é um livro rápido - afinal é um livro de crônicas - com uma linguagem que fluí e uma formatação que colabora para a rápida leitura da obra. Em duas horas é possível lê-lo por completo. Essa fluidez já seria bastante atraente para um leitor não fã de crônicas como eu, mas outro fator pesou bastante para ler rápido o livro: é impossível não se identificar com ele se você também for um leitor compulsivo!
     Sanches Neto narra - de forma ficcional ou não, não tenho ideia - a trajetória de sua formação como leitor, escritor, crítico e, logo, como dono de livros. Através das tantas crônicas que compõem o livro, às vezes até num tom de ensaio, ele vai ponderando e desdobrando os enlevos dessa arte secular de adquirir livros - afinal trata-se sim de uma arte! Indo desde suas jornadas pelos sebos da capital do estado, até, e é onde me identifico, a espera pelos livros que chegam pelo correio. Foi um alívio saber que a ansiedade por receber o livro e a excitação quando ele finalmente está em mãos são sentimentos universais. E também conta-nos do seus primeiros contatos com os livros, através da biblioteca pública, assim como muitos leitores que não têm condições de adquirir o livro, e, assim como muitos leitores, foram esses os primeiros livros que ele possuiu, em um confessado crime de amor ao roubar esses livros.
Miguel Sanches Neto
      O livro também abordar a visão de outros escritores, como Borges, Bloom e Schopenhauer sobre a leitura e sobre os livros. A mistificação do objeto livro e do objetivo da leitura é sem dúvidas a discussão mais interessante da obra: afinal, ler liberta ou aprisiona? O autor tende mais para a segunda ideia, porque uma vez que você começa a ler dificilmente você se sentirá livre para não ler novamente: do contato com o livro também nasce o amor. Mas talvez, ele propõe. esteja no fato de que o conhecimento adquirido na leitura não torna a realidade algo fácil de aceitar, ao contrário, a consciência crítica é a que mais se inquieta e mais se choca com a realidade, motivo pelo qual o livro é tudo, menos a coisinha fofa que foi idealizada e mistificada por algum positivismo livristico vigente na cultura pop. E quando a isso, o autor não discute, mas eu digo, ler está na moda! Todos leem hoje em dia. A grande questão agora é o que se lê. Sendo esse ponto também abordado por ele, todavia, acho melhor não revelar todas as minucias do livro, certo?
        Em suma é um livro divertido, o tempo passa e você não vê, e, o mais legal, não deixa de se identificar com o autor. E, acima de tudo, é um livro sobre a arte de ler e sobre livros, sobre a magia que cada página leva sim o leitor que, se souber usar o livro, terá uma experiência única na vida.
       Fora isso, preciso admitir, que ainda não consigo gostar da crônica, ou talvez seja só alguns (grande maioria) dos autores brasileiros, que usam o mesmo tom de lírica, que, para não falar nos enormes clichês e grandes cafonices, acho bobo. Mas esse sou eu, quem discordar se manifeste (com educação) por favor.


"Enquanto não passar pelos olhos do leitor, que o incorporará, na maioria das vezes inconscientemente, ao seu universo de referências, o livro não chega a ser propriamente livro. É apenas papel impresso. Um objeto que só ocupa espaço no mundo físico, uma ferramenta desprovida de sua principal função, a de interferir na constituição do humano."
(SANCHES NETO, 2004: 80)

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