terça-feira, 16 de julho de 2013

Sexo, amor e outras drogas em O complexo de Portnoy



Divertido, original, pervertido, e atual! Esses são os adjetivos que melhor descrevem a obra-prima de Philip Roth, escrita cinco décadas atrás. Com uma combinação de humor negro e erotismo, Roth cria a textura complexa da vida de um judeu de meia idade em crise existencial. É impossível não rir e se chocar, e, por mais assustador que seja, se identificar com algumas situações que apresenta ao leitor.
Considerado o maior escritor americano vivo, Philip Roth (que já se aposentou como escritor, WTF?!) trabalha com a fragmentação do conceito de ser judeu. Seus personagens enfrentam uma série de conflitos entre a ortodoxia clássica do judaísmo e o mundo em que estão inseridos. (É importante dizer que mesmo não sendo judeu, esse conflito acaba falando a quase todas as pessoas do mundo de alguma forma. E, isso é fundamental!, são escritores americanos como o próprio Roth que mais influenciaram nossos autores contemporâneos, aqui no Brasil). E é justamente por esse caminho que O complexo de Portnoy (Cia das Letras, 2012) leva o leitor.
Quase que um romance de formação, a trama narra as desventuras do pequeno Alexander Portnoy, desde sua infância, até muito próximo do tempo presente, onde ele está narrando (isso mesmo, o próprio Alex é o narrador) para seu terapeuta esses fatos. (Esse é o diferencial da trama, ela é contada como se fosse o personagem se dirigindo em uma conversa diretamente à alguém, que, uma vez que o terapeuta só manifesta sua voz na última frase do livro, é diretamente ao leitor que ele fala).
Philip Roth
Tendo crescido entre o peso da marcação de uma mãe controladora e dramática, em oposição ao vazio de um pai sem atitude e não raramente omisso, Portnoy cresceu como que em um conflito existencial, onde os papeis de formação de sua personalidade estiveram trocados entre os pais: o pai era a mãe e a mãe o pai, como ele mesmo lamenta ao seu psicanalista. Sua mãe (Sophie Portnoy) por vezes, aos olhos do narrador, é uma psicopata crônica, capaz de ameaçar o filho de cinco anos durante o jantar com uma faca, pelo simples fato dele se recusar a comer. Enquanto o pai, um homenzarrão que jamais terá uma vitória pessoal na vida, chora como uma mocinha virgem ao som da voz irritada do filho. E entre o sentimento de estar sendo sufocado pela mãe e de frustração pela impotência do pai, Portnoy encontra desde cedo no sexo (ou na masturbação) a fuga, o escape, “o meio de manter sua sanidade”.
E deste ponto começam as perversões do narrador-anti-herói-protagonista. Que nos conta desde suas experiências bizarras com masturbação (que envolve fígados crus e maçãs violentadas), até suas extravagâncias com suas namoradas (a que mais aparece no romance atende pelo apelido carinhoso de Macaca).

Entretanto, mais que um romance sobre as agruras de um judeu em crise, o romance é uma leitura (da perspectiva judia, é claro) dos traumas e anseios do homem no Século XX (e do Século XXI também!). À luz de uma paródia sarcástica e bastante ácida da psicanálise, Roth refaz o Mal-estar na civilização num tom divertido e contundente, que vai arrebatar o leitor. Escrito em plena era da liberação sexual, a atemporalidade do livro é assustadora, provando que cinco décadas depois, muitos dos “tabus” sociais continuam em pleno vigor. E é uma obra que, antes de tudo, trata da fragilidade dos laços humanos, na busca entre realização e plenitude existencial.



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