segunda-feira, 17 de junho de 2013

A tragédia hemingwayniana

"Aos que trazem coragem a este mundo, o mundo precisa quebrá-los para conseguir eliminá-los, e é o que faz. O mundo os quebra, a todos; no entanto, muitos deles tornam-se mais fortes, justamente no ponto onde foram quebrados. Mas aos que não se deixam quebrar, o mundo os mata. Mata os muito bons, os muito meigos, os muito bravos – indiferentemente. Se vocês não estão em nenhuma dessas categorias, o mundo vai matar vocês, do mesmo modo. Apenas não terá pressa em fazer isso." Essa máxima hemingwayniana, e também um dos trechos mais conhecidos da obra, é uma síntese da teia trágica em que estão presos as personagens de Hemingway. Em sua essência, eles trafegam por círculos existenciais em que a própria matéria da vida, prática e objetiva, entra em conflito com a essência de suas próprias carências, as quais estão sempre maquiadas por habilidades diretas. Mas essa carência, que os persegue e os encontra justamente durante sua fuga, no cenário mais antagônico, é a gama de existências perdidas, que se temem, e asseiam por se completar, mesmo que isso os coloque contra toda máquina universal na qual estão presos. E é nesse contexto que o jovem casal que protagoniza a obra se encontram e se perdem, absorvendo-se mutuamente em sua essência e em sua necessidade de tomar dessa essência, até que a maquina universal na qual se inserem lhes esmague.
Quando Frederic Henry se encontra com a enfermeira Catherine Barkley, ele figurava no pavilhão dos muitos personagens hemingwaynianos que estão em busca de uma identidade em um mundo que não compreendem – ainda que nem sempre saibam disso. Foi durante a primeira guerra mundial, na Itália, onde o soldado expatriado americano serve como voluntario da cruz vermelha. E é quando seus destinos se entrelaçam que a carência da personagem até então remediada com soluções diretas se levanta, e ele percebe que só pode se completar na companhia da bela enfermeira, se atirando em um amor juvenil que devora-os. Abandonam tudo, como quem descobre o sentido de suas vidas, para viverem unicamente do centro desse amor e, ao fazê-lo, tal como Romeu e Julieta – caso seja permitido uma comparação clichê – se atiram ao trágico destino de um amor impossível, pois, seu amor só é possível ao negar a maquina que os aprisiona, traçando o belo e catártico destino do casal.

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