quinta-feira, 20 de fevereiro de 2014

A fórmula Zafón – resenha de O príncipe da névoa




Ano feliz é um ano com lançamento de um livro novo de Carlos Ruiz Zafón. O cara é tão bom, que eu particularmente acendo uma vela para qualquer santo que faça campanha de ajudar escritores a escreverem (e ele está demorando tato para acabar a saga do Cemitério dos Livros Esquecidos, que logo logo vai precisar de muitas velas). Após se tornar mundialmente conhecido e um dos escritores mais vendidos da história editorial recente do planeta, com A sombra do vento, as editoras encarregadas de publicar sua obra pelo mundo se apressaram em correr atrás de outros títulos do cara para preencher sua fatia no mercado – o que é bem necessário, já que ele entra para a categoria R. R. Martin de escritores lentos para escrever. E seguindo essa vibe, a Suma de Letras trouxe os primeiros livros de Zafón, ou seja, aqueles que ele escreveu antes do famigerado Sombra do vento, que fizeram algum sucesso na Espanha, mas nada digno de ser traduzido antes (apesar que Marina foi um livro e tanto!), e entre esses livros está o primeiríssimo trabalho dele, O príncipe da névoa.
Antes de entrar no campo do “o livro fala sobre...”, preciso dizer: sou culpado por antecipação para falar do Zafón, porque sou verdadeiramente fã do cara (ok, não li a biografia detalhada, nem pagaria para ver em um museu a coleção de cuecas do cara, mas acho que vocês entenderam). Foi com A sombra do vento que posso dizer que fiquei viciado em livros. O acho extremamente poético, e absurdamente criativo. As notas de suas histórias, que são sempre sombrias e melancólicas, caem como música aos meus olhos, sem falar que essa onde de modern gothic que ele usa é algo que eu acho incrível. Logo, se me pedirem para recomendar um escritor do coração, o tio Zafón seria talvez a primeira opção.
Carlos Ruiz Zafón
Muito bem, adendos feitos, vamos ao livro. “O livro fala” sobre uma família barcelonesa, que para fugir da guerra se mudam para uma cidade costeira pequena no interior. Eles mudam para uma casa onde outra família teve um final trágico, e por onde paira uma aura de mistério sobre a morte do filho do casal que ali moravam. Nessa cidade, o protagonista, um pia de 13 anos chamado Max, descobre que coisas estranhas acontecem. Por exemplo: existe um jardim de estatuas de circo que se mexem. Mas é lá também que ele conhece Roland, um amigo que vai lhe acompanhar nas sinistras aventuras do lugar, e ainda apresentar a porta para os segredos do Príncipe da Névoa, cuja maldade é responsável pelos fatos estranhos que pairam no lugar.
O livro é sinistro, emocionante, divertido, mágico, e cheio de mistério e suspense. Mas, e nesse caso é um grande “mas...”, existem duas coisas que merecem menção: a primeira é que o livro (como eu já disse) foi o primeiro romance de Zafón, então quando eu o li senti a ausência de certa maturidade (até porque ele tinha 25 anos quando escreveu), e a falta daquele toque poético que tanto me impressiona nele, além de alguns pontos do livro que foram fracos; segundo (o que talvez até explique porque eu achei meio fraco), Zafón escreveu esse livro para ser infanto-juvenil. Logo, se você, como eu, é apaixonado pelos romances adultos dele, não se assuste caso algo soe estranho.
Mas existe uma última coisa que gostaria de colocar em pauta aqui. Muitos escritores, quando você os lê bastante, apresentam um padrão na forma de contar suas histórias. Uma fórmula narrativa pela qual todos os seus romances se desencadeiam. E digo isso sem querer parecer estruturalista, é só que é impossível você ler, por exemplo Dan Brown, e não ter a sensação de que está lendo a mesma história, só que com fatos diferentes. Enfim, acabou que com o Zafón é o mesmo. Sem nunca querer comparar ele com Dan Brown, uma vez que a forma de escrita do Zafón é mil anos luz superior. Mas o Zafón usa a seguinte fórmula: personagem no presente se depara com algum objeto que exerce qualquer tipo de fascínio sobre ele (um livro, alguém, um lugar), e a partir de então começa a procurar no passado a história desse objeto. O que acontece é que esse objeto é assombrado de alguma forma por alguma história triste e nebulosa, que passa a colocar em perigo o protagonista que por qualquer capricho do destino, esbarrou com esse objeto. E agora, a única forma de sobreviver, é desvendando os segredos por trás dele, o que faz com que a história passada desse objeto seja a mesma do protagonista no presente sejam a mesma. E isso, em todos os seus livros.
Eu sei que qualquer esboço de um padrão nas obras de um autor costumam soar como “desmerecimento”, mas em suma, não é bem assim, basta listar autores como Henry James e Machado de Assis, que também adotavam “fórmulas literárias”. De todo modo, acho que independente disso o Zafón continua sendo um dos melhores contadores de história da atualidade, e mesmo que ele não vá ganhar o Nobel de Literatura, continua sendo um escritor que (ao menos em suas obras adultas) é complexo e profundo para mim. E vale lembrar que ele já usava essa fórmula antes de seu “bum” de sucesso.

Para finalizar, digo que VOCÊ PRECISA LER A SOMBRA DO VENTO E O JOGO DO ANJO, mas se você nunca leu Zafón e não é um leitor de obras grandes, comece com O príncipe da névoa. É um livro divertido e que você consegue ler em uma tacada. 





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