sábado, 15 de fevereiro de 2014

Resenha A menina que roubava livros – livro e filme

Poster do filme em inglês

Existem alguns livros que dividem nossa vida em dois momentos: antes e depois. Sempre que você pensar em livros, ele estará na sua lista de obras invariáveis. A menina que roubava livros está na minha, bem próximo do topo (assim como tenho certeza na lista de muitas pessoas, afinal, é um dos livros mais vendidos da história editorial de nosso país). E quando você ama demais um livro, você sempre espera com expectativa para ver os personagens ganharem vida na tela. Nem que seja para dar merda, mas ver os seus personagens mais queridos em carne e osso é sempre mágico (lembrando que magia negra também é magia). Sempre quis ver uma adaptação do Menina que roubava livros, e quando eu vi a notícia pela primeira vez, foi aquela congestão mental de expectativa. E, já adiantando o final dessa história (só para fazer jus ao mal habito da(o) narradora(o) dessa história), posso dizer que gostei muito do filme – quer dizer, não vou comprar o DVD nem o Blue-Ray original e tal, mas foi bom ver a Liesel falando e se mexendo, e com certeza vou assisti-lo uma vez mais (nem que seja SÓ uma vez mais).
Capa do livro pela Intrínseca
A história em si dispensa qualquer sinopse, já que todo mundo conhece a saga da menina que é adotada por um casal de meia idade durante a Segunda Guerra Mundial, e com isso aprende três coisas: a paixão aos livros, a odiar Hitler, e a amar algumas pessoas (como certo pai adotivo que toca muito acordeom, e um tal judeu com cabelo de passarinho, sem falar no alemãozinho que queria ser negro e daria tudo para beijá-la). E toda a saga dessa menina que desde cedo conheceu o sofrimento e a dor é nos contada pelo mais inacreditável dos narradores: a própria morte.
Sério, acho que poderia escrever uma tese (e possivelmente eu escreva) só para analisar a estrutura do narrador. A morte é a construção mais feliz do autor no livro, e ela é de uma poeticidade que tiraria muitos aspirantes à Shakespeare pro chinelo. Ela é complexa, com inversões de tempo, sempre adiantando a história, fazendo parênteses, reminiscências (vide Google para saber o que significa), causando quebra de expectativas e o melhor e mais complexo de tudo: ela narra a fome, o fim da vida, a violência e guerra de uma forma LEVE, uma forma terna, que não é opressiva para o leitor. Isso por si só já prova que esse é um dos livros mais importantes de nossos tempos, uma verdadeira obra de arte do senhor Markus Zusak, e é fundamental também, porque prova que literatura infanto-juvenil também é ARTE, com A maiúsculo, vibrante e em vermelho.
Markus Zusak
O filme, embora conte com a presença da morte, infelizmente não consegue fazer jus ao poder do narrador do livro, até porque ele aparece pouquinhas vezes na história (e sério, só eu imaginei a morte mulher? Afinal, existe um motivo para o artigo “a”). Existem alguns desvios no roteiro, como a falta de poeticidade dos roubos dos livros, que no filme é algo mais banal, enquanto no livro é algo totalmente lindo. Faltou um pouco da relação de Liesel com as outras crianças, mas, fora isso, o filme é bem fiel sim. Agora cuidado com o meio spoiler: mas aquela cena onde o Rudy diz “eu te amo” (ou tenta dizer), é muito desnecessária. Foi apelativa e não existe no livro.


Outra coisa que me incomodou no filme foi a tradução (a legendada pelo menos, não vi dublado). Cara, qual o problema dos tradutores no Brasil? Por acaso pensam que toda criança e jovem é retardado, ou feito de cristal, e por isso precisa ser poupado de qualquer coisa que não seja fofinha? Toda vez que alguém falava “saumensch” e os caras traduziam para “porquinha”, eu queria pular de um poste. Não só de “bem me queres” se faz uma vida, e acho que se existem palavrões, palavras fortes, e expressões chulas na vida, é bobagem tentar esconder isso. Negar o real não é fazer fantasia, é transformar a fantasia em algo insosso. Até porque na trama o saumensch (porca imunda), era aplicado com carinho (e sim, sei o quanto isso parece irônico). Enfim, no balanço geral termino assim: o filme é valido, mas o livro é perfeito. 


Trecho do livro

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