quarta-feira, 5 de fevereiro de 2014

Os deuses nunca morrem – Resenha de Deuses Americanos, de Neil Gaiman



Ultimamente eu tenho dedicado algum tempo para ler literatura fantástica, que embora eu sempre tenha curtido, eu cheguei a ler pouco. E é impossível falar em literatura fantástica contemporânea sem associar o nome de Neil Gaiman, como todos sabem. Mas, apesar dos mitos, das lendas, e dos louros que envolvem o nome do autor britânico, meu primeiro contato com ele foi bem infeliz. O livro O oceano no fim do caminho me encantou mais pela capa que pela história. Mas... como águas passadas não movem muinhos (nem as águas do oceano), eu dei mais uma chance para o cara, e li a cultuada série de quadrinhos Sandman. E não, você não leu errado o título, esse post é sobre o livro Deuses americanos (C, 2011) mesmo, mas eu só decidi ler esse livro porque eu fiquei viciado na série (que diga-se de passagem, é um absurdo o preço das edições definitivas da Panini). E qual meu parecer? Deuses americanos redimiu o cara em termos de literatura completamente.
Uma coisa que preciso dizer é que ler as histórias de Gaiman é ter contato com um tipo diferente de literatura fantástica. Gaiman tem seu próprio universo, e é o universo de uma literatura fantástica estranha. Mas já explico isso.
Neil Gaiman
A história de Deuses americanos, conta a vida de Shadow, um ex-presidiario que descobre que sua mulher morreu no dia em que sai da cadeia, e o mais chocante, morreu o traindo com seu melhor amigo (vale dizer também que ele foi preso por conta de uma idéia da mulher). Mas, piriguetes a parte, o cara fica arrasado, e no meio do caminho para casa conhece um tal de Sr. Wednesday, que lhe oferece um emprego como capanga do cara. A partir da daí coisas estranhas acontecem ao redor de Shadow, até que ele finalmente descobre que seu empregador é ninguém menos que o papai de Thor, o grande Odín, que para quem não conhece é a versão de Zeus para a mitologia nórdica. De súbito, Shadow se vê no meio de uma guerra, onde os novos deuses americanos (como o deus do dinheiro e o deus da TV), estão tentando obliterar os deuses antigos. E se você estiver pensando: o que bulhufas foi fazer Odín tão longe da Europa?, a resposta é talvez o que existe de mais legal no livro: os imigrantes o trouxe, bem como os muitos deuses de todas as partes do mundo que hoje povoam a América, em suas mentes, com suas orações e tradições.
Agora Shadow precisa correr contra o tempo para desvendar os segredos por trás dessa guerra aparentemente inevitável, e descobrir o que ele tem de tão especial ao ponto de um deus lhe procurar. A trama é cheia de reviravoltas, e o leitor precisa ficar atento.

O livro foi o mais premiado de Gaiman, com prêmios nos EUA e na França (o legal é que o cara é britânico), e esteve entre os que mais venderam de suas obras. É uma literatura fantástica para adultos, e tem cenas fortes. É um mergulho e tanto para você que curte literatura policial, o fantástico, erotismo, terror, e uma pitada de humor, com alguns personagens que irão marcar profundamente seus leitores. 
E como eu havia dito, a ficção de Gaiman é talvez mais estranha que fantástica. Isso porque ele usa muito os elemento de literatura pulp, que procura trabalhar mais com o movimento em passagens absurdas sem explicação, que de fato com sentidos. Gaiman combina isso com os elementos do folclore de muitos povos, para construir um universo fantástico que tem muito a ver com um país da América, que foi colonizado por diferentes povos (como o Brasil, por exemplo). E tem algo interessante que eu noto nos trabalhos dele desde Sandman: os protagonistas só participam da ação indiretamente. Ou seja, se tem luta são outros que lutam, eles só aparecem em momentos definitivos para fechar os nós da intriga. Ainda assim, vale muito a pena.


Outras capas:




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