sexta-feira, 7 de fevereiro de 2014

Os melhores e os piores de 2013



Eae, pessoal. Trouxe hoje uma teg que já está meio atrasada, né? Mas, como já diziam os antigos, “antes tarde do que nunca”. Fazer um balanço das leituras de um ano inteiro não é tão fácil quanto gostaríamos, principalmente se foi um ano em que você leu bastante. Mas, fazendo muito esforço e causando muita dor no coração, consegui reduzir minhas leituras a cinco livros que foram os melhores e cinco que deixaram a desejar. Assim, comecemos pelos livros que poderiam ter sido melhores:


01 – O oceano no fim do caminho – Neil Gaiman (Intrínseca, 2013)
Ao certo fiz alguém torcer o nariz e dizer “esse cara é louco”, mas tenho um bom argumento em minha defesa: eu esperava mais, muito mais. Sempre ouvi o nome de Gaiman associado às estrelas mais brilhantes da literatura fantástica. Logo, imaginei um trabalho digno de uma supernova que se preze. E não foi o que houve. O que encontrei foi um livro bem mal escrito (ou, possivelmente, bem mal traduzido), que se propunha a ser adulto, mas tinha uma temática, uma estrutura e uma narrativa totalmente infanto-juvenil (o que também pode ter sido uma jogada da editora). Em todo caso, não esteve nem aos pés do mito que me pregaram. Já os trabalhos dele que li depois foram bem mais felizes.


02 – On the Road – Jack Kerouac (L&PM Editores, 2012)
E lá vamos nós de novo: “esse cara só pode estar brincando!”. Qual o problema agora? Também gostaria de saber. A verdade é que sou a única pessoa que conheço que leu o livro e não gostou. Em todo caso, posso jogar a culpa na nossa tradução, afinal o próprio tradutor assumiu não ser a melhor tradução de um livro. Mas vale dar um refresco pro cara, e entender minha desilusão (foi na verdade um caso muito parecido que com o livro do Gaiman), afinal, On the Road é um romance escrito para ser falado em inglês, com uma sonoridade e uma musicalidade totalmente próprio para o idioma inglês.


03 – José – Rubem Fonseca (Nova Fronteira, 2011)
Talvez essa tenha sido a maior das decepções, pelo simples fato que Rubem Fonseca é meu autor nacional favorito. O livro é uma novela, que se propõe a ser autobiográfica, e contar a infância e juventude do escritor mineiro, desde seus dias em Minas, até a mudança para o Rio. A narrativa é entrecortada por reminiscências do autor, e por mais de um momento você sente estar lendo um livro de ensaios, ao invés de uma novela. E existe uma exaltação carioca que é provavelmente a maior ficção no livro, e é justamente o que mais irrita.


04 – Minha querida Sputnik – Haruki Murakami (Alfaguara, 2008)
Murakami é um fenômeno mundial, e embora ele seja autor de um dos meus livros favoritos, meu contato com os outros livros dele não foi positivo. Achei esse livro muito interessante pela idéia, e o clima de solidão que ele desperta é muito forte. Mas a maneira como ele conta foi quase infanto-juvenil, e existe algo de forçado.


05 – Elogio da madrasta – Mario Vargas Llosa (Alfaguara, 2009)
Agora eu consegui!!! Vou falar mau do Mario Vargas Llosa, deve ter alguém parando de ler esse post agora. Mas antes de mais nada preciso dizer em minha defesa que só li dois livros dele: esse e o Travessuras da menina má, e o Travessuras entra fácil na minha lista de favoritos, assim, um amei, outro, nem tanto. No caso do Elogio da madrasta achei muito monótono. O autor perde tanto tempo com fantasias de fetiches (o que é natural, já que é um romance erótico), e com as oblações do Dom Rigoberto que dava para dormir. Mas, a parte da história mesmo, e principalmente o final, até que fazem valer a pena a sonolência do enredo.

E esses foram os cinco menos felizes, que com certeza devem ter incomodado alguém. Mas, como nem só de espinhos vive-se a vida, esse ano eu também tive uma fase muito boa, na verdade, escolher só cinco livros como os melhores foi bem difícil, enquanto achar cinco para os piores também não foi tão fácil. Então, vamos lá:


01-  Tudo o que tenho levo comigo – Herta Müller (Cia. das Letras, 2011)
Imagine um livro onde cada palavra foi pensada para ter um sentido poético, e a construção mais simples seja extremamente bela, sendo que o poder criador da autora é tão forte que mesmo nas cenas mais tristes, violentas e desumanas, ela consegue encontrar um tipo de beleza sensível que pode te dar até vontade de chorar. É exatamente assim o livro da escritora alemã, premiada com o Nobel de Literatura. Em determinado momento, o personagem diz que romances são para se ler uma única vez, enquanto poesia é para se ler mil vezes. Acho que o poder de construção poética de Müller em cima da linguagem conseguiu criar um romance justamente com essa dimensão poética. Fora os fatos históricos que ela conta, sobre os trabalhos forçados que os alemães tiveram que pagar aos russos após a segunda guerra que achei fantástico (um tipo de justiça poética). Favorito, certeza!


02-  Travessuras da menina má – Mário Vargas Llosa (Alfaguara, 2006)
Agora imagine um livro que tenha o poder de te fazer se sentir incrivelmente só. É exatamente esse o poder desse livro do Llosa (outro ganhador do Nobel), que conta uma das histórias de amor mais doentias de toda a literatura. É um romance recheado de humor negro e certa polemica sobre o mito romântico que com certeza fez muitas pessoas odiarem o livro – o que é perfeitamente compreensivo. Mas na medida em que ele explora os limites do que é o amor, sua forma e dimensão, ele explora a própria natureza dos sentimentos e da solidão humana, em um mundo cosmopolita, onde você pode nascer na América do Sul, morar a maior parte da vida na França e morrer na Suíça, sem com isso chegar a pertencer existencialmente a nenhum desses lugares. Bravo!


03-  Doutor Fausto – Thomas Mann (Nova Fronteira, 2011)
 No momento em que estou escrevendo isso eu estou lendo meu segundo livro do Mann (que, adivinhem, é mais um ganhador do Nobel – mas juro que é coincidência), o seu livro mais “importante”, A montanha mágica. No entanto, preciso confessar que Doutor Fausto continua sendo meu favorito das obras dele. Apesar de mais difícil e cansativo, eu me apaixonei pelo livro desde o começo. A linguagem filosófica, a sátira implícita (adoro sátiras), a exploração da existência humana e da arte, é de uma profundidade que justifica a complexidade do livro. E tem a temática do homossexualismo, isso num tempo em que ser gay dava cadeia fácil. E o melhor, a crítica aos domínios de Hitler, que sempre acompanhou a vida do escritor. É um clássico que jamais perderá seu brilho. A história fala de um músico, baseado Nietzsche, que vende sua alma ao diabo para compor a música perfeita. É uma paródia da lenda original, que entre outros livros inspiraram o Fausto, de Goethe. Outro favorito.


04-  Em busca do tempo perdido, vol. 02: à sombra das raparigas em flor – Marcel Proust (Globo, 2006)
E já que é para falar de livros difíceis, não poderia faltar aqui por nada o senhor Proust. De tudo o que eu li na vida, nenhum romance foi tão denso. Isso porque o tempo em Proust se desdobra sobre si mesmo, e não flui para o futuro, mas volta constantemente para dentro dele próprio, o que torna ler um dos volumes do Em busca do tempo perdido uma luta contra a maré. Mas a beleza poética, e o profundo conhecimento da alma humana do Proust faz qualquer esforço valer a pena. Acho que encontrei aqui algumas das passagens mais lindas da minha vida como leitor. E teve a feliz coincidência de que ele falava sobre a mesma coisa que eu estava vivendo, e por isso sou testemunha de que os livros são o melhor apoio para qualquer momento na vida. A história fala de um jovem que vive seus primeiros amores, enquanto vai adentrando a adolescência.


05-  As cidades invisíveis – Italo Calvino (Cia. das Letras, 2010)
Agora, sabe aqueles livros que você começa a ler de tanto ouvir falar, mas tem certeza que vai ser um saco? Foi exatamente assim com esse. E, caramba, nunca fiquei tão feliz de estar errado! A história gira em torno do poder das histórias, da profundidade da imaginação humana e sua relação existencial com os sonhos dos homens. Cada cidade que Calvino descreve é uma imagem do homem. É um livro curto, fácil de ler em um único dia, mas o tipo de história que te persegue por muito tempo depois que termina.


Enfim pessoa, esse foi meu balanço das leituras do ano passado, que está chegando bem atrasado. Então, que 2014 traga livros ainda melhores. Bye! 

Um comentário:

  1. Muito boa sua lista de livros favoritos. Eu fiz a minha lá no blog, mas não ousei comparar Proust com nenhuma das outras leituras do ano. É algo à parte para mim. Além disso, quero ler todos os 7 volumes.
    Já sobre o Vargas Llosa, "Travessuras..." é maravilhoso, né? Gosto muito do Pantaleão e as Visitadoras (é divertidíssimo) e de "A festa do bode".
    Abraço,
    Carla.

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