Eae,
pessoal. Trouxe hoje uma teg que já está meio atrasada, né? Mas, como já diziam
os antigos, “antes tarde do que nunca”. Fazer um balanço das leituras de um ano
inteiro não é tão fácil quanto gostaríamos, principalmente se foi um ano em que
você leu bastante. Mas, fazendo muito esforço e causando muita dor no coração,
consegui reduzir minhas leituras a cinco livros que foram os melhores e cinco
que deixaram a desejar. Assim, comecemos pelos livros que poderiam ter sido
melhores:
01
– O oceano no fim do caminho – Neil Gaiman
(Intrínseca, 2013)
Ao
certo fiz alguém torcer o nariz e dizer “esse cara é louco”, mas tenho um bom
argumento em minha defesa: eu esperava mais, muito mais. Sempre ouvi o nome de
Gaiman associado às estrelas mais brilhantes da literatura fantástica. Logo,
imaginei um trabalho digno de uma supernova que se preze. E não foi o que
houve. O que encontrei foi um livro bem mal escrito (ou, possivelmente, bem mal
traduzido), que se propunha a ser adulto, mas tinha uma temática, uma estrutura
e uma narrativa totalmente infanto-juvenil (o que também pode ter sido uma
jogada da editora). Em todo caso, não esteve nem aos pés do mito que me
pregaram. Já os trabalhos dele que li depois foram bem mais felizes.
02
– On the Road – Jack Kerouac
(L&PM Editores, 2012)
E
lá vamos nós de novo: “esse cara só pode estar brincando!”. Qual o problema
agora? Também gostaria de saber. A verdade é que sou a única pessoa que conheço
que leu o livro e não gostou. Em todo caso, posso jogar a culpa na nossa
tradução, afinal o próprio tradutor assumiu não ser a melhor tradução de um
livro. Mas vale dar um refresco pro cara, e entender minha desilusão (foi na
verdade um caso muito parecido que com o livro do Gaiman), afinal, On the Road é um romance escrito para
ser falado em inglês, com uma sonoridade e uma musicalidade totalmente próprio
para o idioma inglês.
03
– José – Rubem Fonseca (Nova
Fronteira, 2011)
Talvez
essa tenha sido a maior das decepções, pelo simples fato que Rubem Fonseca é
meu autor nacional favorito. O livro é uma novela, que se propõe a ser
autobiográfica, e contar a infância e juventude do escritor mineiro, desde seus
dias em Minas, até a mudança para o Rio. A narrativa é entrecortada por
reminiscências do autor, e por mais de um momento você sente estar lendo um
livro de ensaios, ao invés de uma novela. E existe uma exaltação carioca que é
provavelmente a maior ficção no livro, e é justamente o que mais irrita.
04
– Minha querida Sputnik – Haruki Murakami
(Alfaguara, 2008)
Murakami
é um fenômeno mundial, e embora ele seja autor de um dos meus livros favoritos,
meu contato com os outros livros dele não foi positivo. Achei esse livro muito
interessante pela idéia, e o clima de solidão que ele desperta é muito forte.
Mas a maneira como ele conta foi quase infanto-juvenil, e existe algo de
forçado.
05
– Elogio da madrasta – Mario Vargas Llosa
(Alfaguara, 2009)
Agora
eu consegui!!! Vou falar mau do Mario Vargas Llosa, deve ter alguém parando de
ler esse post agora. Mas antes de mais nada preciso dizer em minha defesa que
só li dois livros dele: esse e o Travessuras
da menina má, e o Travessuras entra fácil na minha lista de favoritos,
assim, um amei, outro, nem tanto. No caso do Elogio da madrasta achei muito monótono. O autor perde tanto tempo
com fantasias de fetiches (o que é natural, já que é um romance erótico), e com
as oblações do Dom Rigoberto que dava para dormir. Mas, a parte da história
mesmo, e principalmente o final, até que fazem valer a pena a sonolência do
enredo.
E
esses foram os cinco menos felizes, que com certeza devem ter incomodado alguém.
Mas, como nem só de espinhos vive-se a vida, esse ano eu também tive uma fase
muito boa, na verdade, escolher só cinco livros como os melhores foi bem difícil,
enquanto achar cinco para os piores também não foi tão fácil. Então, vamos lá:
01- Tudo o que tenho levo comigo
– Herta Müller (Cia. das Letras, 2011)
Imagine
um livro onde cada palavra foi pensada para ter um sentido poético, e a
construção mais simples seja extremamente bela, sendo que o poder criador da
autora é tão forte que mesmo nas cenas mais tristes, violentas e desumanas, ela
consegue encontrar um tipo de beleza sensível que pode te dar até vontade de
chorar. É exatamente assim o livro da escritora alemã, premiada com o Nobel de
Literatura. Em determinado momento, o personagem diz que romances são para se
ler uma única vez, enquanto poesia é para se ler mil vezes. Acho que o poder de
construção poética de Müller em cima da linguagem conseguiu criar um romance
justamente com essa dimensão poética. Fora os fatos históricos que ela conta,
sobre os trabalhos forçados que os alemães tiveram que pagar aos russos após a
segunda guerra que achei fantástico (um tipo de justiça poética). Favorito,
certeza!
02- Travessuras da menina má –
Mário Vargas Llosa (Alfaguara, 2006)
Agora
imagine um livro que tenha o poder de te fazer se sentir incrivelmente só. É
exatamente esse o poder desse livro do Llosa (outro ganhador do Nobel), que
conta uma das histórias de amor mais doentias de toda a literatura. É um
romance recheado de humor negro e certa polemica sobre o mito romântico que com
certeza fez muitas pessoas odiarem o livro – o que é perfeitamente
compreensivo. Mas na medida em que ele explora os limites do que é o amor, sua
forma e dimensão, ele explora a própria natureza dos sentimentos e da solidão
humana, em um mundo cosmopolita, onde você pode nascer na América do Sul, morar
a maior parte da vida na França e morrer na Suíça, sem com isso chegar a pertencer
existencialmente a nenhum desses lugares. Bravo!
03- Doutor Fausto –
Thomas Mann (Nova Fronteira, 2011)
No momento em que estou escrevendo isso eu
estou lendo meu segundo livro do Mann (que, adivinhem, é mais um ganhador do
Nobel – mas juro que é coincidência), o seu livro mais “importante”, A montanha mágica. No entanto, preciso
confessar que Doutor Fausto continua
sendo meu favorito das obras dele. Apesar de mais difícil e cansativo, eu me
apaixonei pelo livro desde o começo. A linguagem filosófica, a sátira implícita
(adoro sátiras), a exploração da existência humana e da arte, é de uma
profundidade que justifica a complexidade do livro. E tem a temática do
homossexualismo, isso num tempo em que ser gay dava cadeia fácil. E o melhor, a
crítica aos domínios de Hitler, que sempre acompanhou a vida do escritor. É um
clássico que jamais perderá seu brilho. A história fala de um músico, baseado
Nietzsche, que vende sua alma ao diabo para compor a música perfeita. É uma
paródia da lenda original, que entre outros livros inspiraram o Fausto, de Goethe. Outro favorito.
04- Em busca do tempo perdido, vol.
02: à sombra das raparigas em flor –
Marcel Proust (Globo, 2006)
E
já que é para falar de livros difíceis, não poderia faltar aqui por nada o
senhor Proust. De tudo o que eu li na vida, nenhum romance foi tão denso. Isso
porque o tempo em Proust se desdobra sobre si mesmo, e não flui para o futuro, mas
volta constantemente para dentro dele próprio, o que torna ler um dos volumes
do Em busca do tempo perdido uma luta
contra a maré. Mas a beleza poética, e o profundo conhecimento da alma humana
do Proust faz qualquer esforço valer a pena. Acho que encontrei aqui algumas
das passagens mais lindas da minha vida como leitor. E teve a feliz coincidência
de que ele falava sobre a mesma coisa que eu estava vivendo, e por isso sou
testemunha de que os livros são o melhor apoio para qualquer momento na vida. A
história fala de um jovem que vive seus primeiros amores, enquanto vai
adentrando a adolescência.
05- As cidades invisíveis –
Italo Calvino (Cia. das Letras, 2010)
Agora,
sabe aqueles livros que você começa a ler de tanto ouvir falar, mas tem certeza
que vai ser um saco? Foi exatamente assim com esse. E, caramba, nunca fiquei
tão feliz de estar errado! A história gira em torno do poder das histórias, da
profundidade da imaginação humana e sua relação existencial com os sonhos dos
homens. Cada cidade que Calvino descreve é uma imagem do homem. É um livro
curto, fácil de ler em um único dia, mas o tipo de história que te persegue por
muito tempo depois que termina.
Enfim
pessoa, esse foi meu balanço das leituras do ano passado, que está chegando bem
atrasado. Então, que 2014 traga livros ainda melhores. Bye!
Muito boa sua lista de livros favoritos. Eu fiz a minha lá no blog, mas não ousei comparar Proust com nenhuma das outras leituras do ano. É algo à parte para mim. Além disso, quero ler todos os 7 volumes.
ResponderExcluirJá sobre o Vargas Llosa, "Travessuras..." é maravilhoso, né? Gosto muito do Pantaleão e as Visitadoras (é divertidíssimo) e de "A festa do bode".
Abraço,
Carla.