sexta-feira, 7 de março de 2014

No corredor da morte – resenha de À espera de um milagre

Capa da edição anterior, com poster do filme


Em primeiro lugar, gostaria de agradecer ao senhor Stephen King por me fazer chorar litros de lágrimas como uma criança cujo doce foi roubado. E não estou falando de lágrimas ocasionais, silenciosas, escorrendo numa boa, mas sim em uma torrente, com direito a soluços e tudo. Na verdade a coisa foi tão violenta que eu tive que, faltando dez páginas para acabar o livro, parar a leitura e chorar tudo de uma vez, para conseguir lavar o rosto e voltar a ler. É meus amigos, esse é o efeito de À espera de um milagre (Objetiva, 2005), do mestre do terror, que nesse livro quis provar que é antes um mestre do fantástico do que do terror.
Em segundo lugar, preciso perguntar: mas de onde desencavaram esse título em português? O original The green mille nunca nem foi cogitado como título no Brasil, e olha que antes o livro foi publicado por aqui com o nome de O corredor da morte. Se bem que, convenhamos, o título definitivo ficou bem legal, talvez até mais que do original, que só faz sentido para quem lê o livro, e com atenção.

Mestre Stephen King
 E digo ainda: esse é de longe o melhor livro escrito pelo King, e não digo isso só pela história, afinal, apesar de o titio Stephen não ser considerado um “escritor sério”, mas sim um “autor de massa e de histórias de subliteratura”, a verdade é que quando se trata de criar enredo, personagens e tramas ele faz isso magistralmente sim. Com personagens que irão se tornar ícones e sobreviver por décadas, quiçá séculos, no coração e nas mentes dos leitores (ó! Nada como uma declaração clichê para embelezar a defesa de um escritor popular). Enfim, o fato é que ele sabe sim criar enredos muito bem amarrados, que prendem o leitor, são diferentes, e originais. E apesar disso, não é por essa razão que esse é o melhor livro dele para mim.
O fato é que ele escreveu com muito mais cuidado, e a linguagem e a estética ficou muito mais acabada que nos outros livros. O personagem narrador é marcante, ele fala com muita propriedades, trejeitos, e opiniões que fazem dele quase alguém real. Existe uma poética que normalmente falta na prosa de autores de fantasia, e a história segue caminhos complexos da narrativa, como a não linearidade, onde o autor vai contando por reminiscências o ocorrido. Nota dez para o titio Stephen aqui.
Quanto a história, acho que não preciso falar muito, pois todos, mesmo quem não assistiu o filme nem leu o livro a conhecem. O livro conta sobre um personagem enigmático chamado John Coffey (nome muito parecido com João Café em português), um negro absurdamente alto, com músculos ridiculamente bombados, e com uma personalidade, no mínimo, exótica. Em miúdos: o cara grandão chora o tempo todo e tem medo de escuro. Seria cômico, não? Mas nem de longe nosso personagem é alguém fofo, na verdade ele está no corredor da morte por ter estuprado e assassinado duas menininhas indefesas. Isso ao menos supostamente. E se tudo isso já não fosse bem peculiar, John Coffey ainda tem mãos mágicas (sem trocadilhos). Com um toque ele é capaz de competir com muitos pastores pentecostais e curar qualquer doença, mas com muito mais charme.

Michael Clarke Duncan interpretando John Coffey 

A história é contada por Paul Edgecomb, que por muitos anos foi o chefe dos guardas no corredor da morte. E além dele, outros personagens passam pelo livro, como o fabulo (e responsável por metade de minhas lágrimas) Sr. Guizos (ou Mr. Jingles para quem só assistiu o filme), que é talvez o ratinho mais esperto de toda ficção universal. Ao longo da trama, vamos descobrindo mais sobre Coffey, e os difíceis dias antes de sua execução, onde os guardas precisam lidar com aquele que talvez seja o maior enigma de suas vidas.

Agora, para falar do filme, acho que sua melhor qualidade é ser bem fiel ao livro, com algumas mudanças, o que é natural, mas que segue bem próximo a linha do livro. (Ainda assim, o filme é bom, enquanto o livro é perfeito). O diretor já trabalhou com várias adaptações da obra de King, incluindo Um sonho de liberdade, que é um de meus filmes favoritos. Recebeu várias indicações ao Oscar, embora não tenha recebido nenhuma. Mas, se você tem três horas disponíveis, e quer gastar com um bom filme, assista. Vale a pena, afinal é sempre mágico ver seus personagens ganharem vida (principalmente o Sr. Guizos), sem falar que Tom Hanks está em uma de suas melhores interpretações. 

A nova capa do livro:


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