Capa da edição anterior, com poster do filme |
Em primeiro lugar, gostaria de
agradecer ao senhor Stephen King por me fazer chorar litros de lágrimas como
uma criança cujo doce foi roubado. E não estou falando de lágrimas ocasionais,
silenciosas, escorrendo numa boa, mas sim em uma torrente, com direito a
soluços e tudo. Na verdade a coisa foi tão violenta que eu tive que, faltando
dez páginas para acabar o livro, parar a leitura e chorar tudo de uma vez, para
conseguir lavar o rosto e voltar a ler. É meus amigos, esse é o efeito de À espera de um milagre (Objetiva, 2005),
do mestre do terror, que nesse livro quis provar que é antes um mestre do
fantástico do que do terror.
Em segundo lugar, preciso
perguntar: mas de onde desencavaram esse título em português? O original The green mille nunca nem foi cogitado
como título no Brasil, e olha que antes o livro foi publicado por aqui com o
nome de O corredor da morte. Se bem
que, convenhamos, o título definitivo ficou bem legal, talvez até mais que do
original, que só faz sentido para quem lê o livro, e com atenção.
Mestre Stephen King |
E digo ainda: esse é de longe o
melhor livro escrito pelo King, e não digo isso só pela história, afinal,
apesar de o titio Stephen não ser considerado um “escritor sério”, mas sim um “autor
de massa e de histórias de subliteratura”, a verdade é que quando se trata de
criar enredo, personagens e tramas ele faz isso magistralmente sim. Com
personagens que irão se tornar ícones e sobreviver por décadas, quiçá séculos, no
coração e nas mentes dos leitores (ó! Nada como uma declaração clichê para
embelezar a defesa de um escritor popular). Enfim, o fato é que ele sabe sim
criar enredos muito bem amarrados, que prendem o leitor, são diferentes, e
originais. E apesar disso, não é por essa razão que esse é o melhor livro dele
para mim.
O fato é que ele escreveu com
muito mais cuidado, e a linguagem e a estética ficou muito mais acabada que nos
outros livros. O personagem narrador é marcante, ele fala com muita
propriedades, trejeitos, e opiniões que fazem dele quase alguém real. Existe
uma poética que normalmente falta na prosa de autores de fantasia, e a história
segue caminhos complexos da narrativa, como a não linearidade, onde o autor vai
contando por reminiscências o ocorrido. Nota dez para o titio Stephen aqui.
Quanto a história, acho que não
preciso falar muito, pois todos, mesmo quem não assistiu o filme nem leu o livro
a conhecem. O livro conta sobre um personagem enigmático chamado John Coffey (nome
muito parecido com João Café em português), um negro absurdamente alto, com
músculos ridiculamente bombados, e com uma personalidade, no mínimo, exótica.
Em miúdos: o cara grandão chora o tempo todo e tem medo de escuro. Seria
cômico, não? Mas nem de longe nosso personagem é alguém fofo, na verdade ele
está no corredor da morte por ter estuprado e assassinado duas menininhas
indefesas. Isso ao menos supostamente. E se tudo isso já não fosse bem
peculiar, John Coffey ainda tem mãos mágicas (sem trocadilhos). Com um toque
ele é capaz de competir com muitos pastores pentecostais e curar qualquer
doença, mas com muito mais charme.
Michael Clarke Duncan interpretando John Coffey |
A história é contada por Paul
Edgecomb, que por muitos anos foi o chefe dos guardas no corredor da morte. E
além dele, outros personagens passam pelo livro, como o fabulo (e responsável por
metade de minhas lágrimas) Sr. Guizos (ou Mr. Jingles para quem só assistiu o
filme), que é talvez o ratinho mais esperto de toda ficção universal. Ao longo
da trama, vamos descobrindo mais sobre Coffey, e os difíceis dias antes de sua
execução, onde os guardas precisam lidar com aquele que talvez seja o maior
enigma de suas vidas.
Agora, para falar do filme, acho
que sua melhor qualidade é ser bem fiel ao livro, com algumas mudanças, o que é
natural, mas que segue bem próximo a linha do livro. (Ainda assim, o filme é
bom, enquanto o livro é perfeito). O diretor já trabalhou com várias adaptações
da obra de King, incluindo Um sonho de
liberdade, que é um de meus filmes favoritos. Recebeu várias indicações ao
Oscar, embora não tenha recebido nenhuma. Mas, se você tem três horas disponíveis,
e quer gastar com um bom filme, assista. Vale a pena, afinal é sempre mágico
ver seus personagens ganharem vida (principalmente o Sr. Guizos), sem falar que
Tom Hanks está em uma de suas melhores interpretações.
A nova capa do livro:
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