sexta-feira, 11 de abril de 2014

O tempo no paraíso – Resenha de Em Algum Lugar do Paraíso



Eu não sou fã de crônicas, quem me conhece sabe bem disso, mas, algumas vezes, consigo achar um ou outro livro que realmente me cativa. Nesse caso, nem deveria ser novidade, afinal em termos de crônicas Luis Fernando Verissimo é talvez o nome maior no cenário literário nacional, e ele está fazendo muito jus ao título na obra Em algum lugar do paraíso (Objetiva, 2011). Acho que nunca ri tanto em um livro como nesse, embora isso outra pessoa que leu não pareceu achar tanta graça como eu (o que me faz pensar no quanto é fantástica a subjetividade da literatura). O livro reúne 41 crônicas, sobre os mais diversos temas, indo desde reflexões sobre o tempo com adornos religiosos, até um desfecho inusitado para a peça absoluta de Beckett.
Em suma essas crônicas reúnem todo humor que marca propriamente o gênero crônica, e traz consigo toda crítica implícita do autor sobre a sociedade brasileira. Na maior parte das vezes, essa crítica é voltada para a classe média e classe média alta, naquilo que podemos chamar de “comédia de costumes”. É o caso da crônica onde um ex-rico preciso se controlar no mercado, apesar do desejo desesperado de comprar produtos importados. Mas, por outro lado, algumas crônicas são apenas humorísticas, e particularmente eu achei que são as melhores. É o caso da crônica do astronauta que é confinado sozinho pela NASA, e que com o passar do tempo começa a enlouquecer. É de morrer de rir. Na verdade, não lembro de ter gargalhado tanto em um livro antes.
Luis Fernando Veríssimo
Mas o ponto alto do livro é de longe a primeira crônica, que também é a crônica que dá nome à obra. Veríssimo faz uma divertida e profunda análise das dimensões do tempo, de como ele se configura para nós de modo que podemos reconhecer em um domingo algo que nos faz pensar em domingo, ou na segunda, etc. Ao mesmo tempo, ele propõe que as datas são inúteis, porque não servem verdadeiramente para marcar como as coordenadas, e em algum momento de nossas vidas estamos todos a orbitar na existência. Profundo não? Então, livro super recomendado!

Eu sou fã do escritor gaúcho mais pelos romances que pelas crônicas (por alguma razão, sempre achei a dita comédia de costumes algo fraco, que remete a um tipo de literatura superficial), mas, deixando de lado minhas opiniões sobre os rumos da literatura brasileira, eu nunca fiquei tão surpreso com um livro de crônicas e posso dizer que além de ler os romances e contos, com certeza lerei mais crônicas do Veríssimo. 

"As datas deveriam nos  fixar no tempo como as coor denadas geográficas nos fixam no espaço, mas a analogia não funciona. O tempo não tem pontos fixos, o tempo é uma sombra que dá a volta na Terra. Ou a Terra é que dá voltas na sombra. Nossa única certeza é que será sempre a mesma sombra — o que não é uma certeza, é um terror."

Um comentário:

  1. Taí. Tu me fez não me desfazer desse livro na minha estante! Obrigado!

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