Todas as cidades são assombradas por
histórias macabras: crimes horríveis, incesto, monstruosidades sobrenaturais
que supostamente habitam o lugar; mas a cidade de Dunwich é aparentemente muito
mais maligna que qualquer outro lugar da terra. Marcada pela tradição das famílias
mais antigas de dormirem com membros da própria família, não raramente irmãos
ou primos, a cidade é assombrada por tipos bastante bizarros. E o tipo mais
sinistro é a família de Whateley. Os Whateley sempre estiveram envolvidos em
todo tipo de comentários macabros: bruxaria, pacto com o diabo, experiências estranhas;
e quando o casal tiveram um filho que pouco se parece com um humano, esses
rumores começaram a ganhar força. A criança, Wilbur, macabra cresce de forma impossível:
com menos de 10 anos aparenta três vezes essa idade. Seu corpo é hediondo, de
formas estranhas, pouco natural. Sua voz é gutural, de uma maneira que não lembra
em nada uma voz humana.
O monstro no Sótão |
Acompanhando tudo isso outro fato
estranho: o gado da família começa a desaparecer de forma inexplicável, e o
patriarca da casa continua a reformar e ampliar a parte de cima da casa de um modo suspeito, e estranhos barulhos que escapam do sótão. Estranhos
assassinatos começam a ocorrer na cidade. Primeiro animais, cachorros. Depois
pessoas. E as primeiras vítimas são os pais do estranho Wilbur, o garotinho com
cara de bode que cresce em uma velocidade absurda. E enquanto Wilbur se torna
cada vez maior, ele procura pelo mundo livros estranho de magia negra e
história apócrifa. E é essa obsessão o curador de uma biblioteca de uma
importante universidade americana, o Dr. Armitage a desconfiar que existe algo
errado com o rapaz, e um perigo eminente se aproxima. O que ele não imagina, é
que trata-se de um perigo que pode destruir a humanidade, envolvendo coisas
mais antigas que o homem, e seres mais medonhos que a mera imaginação.
Howard Phillips Lovecraft |
É nesse universo de sombras, mistério,
terror e demônios que H. P. Lovecraft leva o leitor nessa pequena obra prima
que é O horror em Dunwich (Hedra,
2012). Pequena porque a história em si tem em torno de cinquenta páginas, mas o
universo que Lovecraft criou é imenso, tão grande quanto a própria eternidade.
E o poder de narração do autor norte americano é tão forte que ele arrebata o
leitor de onde quer que este esteja e transporta até o sombrio e assustador
interior dos Estados Unidos. Está é uma combinação de folclore, com mitos
milenares, amarrados por uma prosa perfeita. Não existe enrolação, e o terror
se dá pelos seus elementos mais clássicos: o desconhecido, as sombras, os
silêncios, os sons estranhos, os acontecimentos inexplicados.
Esse foi meu primeiro contato com
Lovecraft, mas o nome já era muito conhecido. O próprio Stephen King fala muito
do autor, e o Lovecraft escreveu um dos primeiros ensaios sobre literatura
fantástica e de terror. Cada página do livro me prendeu, e me fez querer ler
mais coisas sobre o autor, que aparentemente escreveu mais obras curtas que
longas. Em todo caso, nenhum fã de terror é fã de verdade sem ler um pouco de
Lovecraft.
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